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20-01-2024        Jornal de Notícias

Esta semana reuniu-se em Davos, na Suíça, o Fórum Económico Mundial, este ano sob o lema “Reconstruindo a confiança”. Este conclave transformou-se, há muito, numa instituição mundial com poder de influência efetivo, o que até impõe a atenção do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU). O Fórum é dominado pela presença, e pelas mensagens, dos líderes empresariais (CEO de grandes companhias) e governantes de todo o Mundo. Destes, os que têm palco pertencem, essencialmente, a países poderosos. Outras representações sociais, do mundo do trabalho, culturais, políticas e económicas, embora tenham alguma presença (selecionada), não contam para o debate das agendas estabelecidas.

Estas elites estão informadas, conhecem estudos científicos sobre as matérias das agendas que estruturam. Dizem-nos, sempre, que os seus objetivos são resolver grandes problemas da sociedade, discutir o futuro, encontrar áreas e processos de cooperação.

Tratam com verdade os temas que colocam em agenda?

O Mundo está menos seguro e mais indiferente ao sofrimento de milhões e milhões de seres humanos. A concentração da riqueza e o aumento das desigualdades são escandalosos. Há menos cooperação. A aplicação do conhecimento, das tecnologias e da inteligência artificial está nas mãos de poderosos que se borrifam para valores éticos e para o interesse da Humanidade. Os problemas climáticos e energéticos agravam-se.

Que atitudes têm adotado os “grandes homens de negócios” que ali se juntam, perante as “crises” que nos vão sendo anunciadas? Na sua esmagadora maioria servem-se das crises para aumentar lucros. É assim que se reconstrói confiança?

António Guterres afirmou, em Davos, que o Mundo surge perigosamente dividido em vários campos, nomeadamente, na economia, no comércio internacional, na utilização das tecnologias e do conhecimento. E, deixou claro que se aprofunda a “grande fratura” na divisão Leste-Oeste. Além disso, denunciou o desrespeito pelo Direito Internacional Humanitário e disse “estamos contemplando o olho de um furacão de categoria 5”. Há, pois, cada vez mais brechas a alimentar a corrida para o abismo. Os Estados Unidos da América (EUA) e a União Europeia têm as suas casas cada vez menos arrumadas, com mais fraturas: tendem a contribuir pouco para a resolução dos grandes problemas.

Anthony Blinken disse que “O que estamos vendo em Gaza é de cortar as entranhas. O sofrimento parte-me o coração”. Todavia, os EUA continuam a apoiar Israel no massacre que este país está a fazer aos palestinianos e tentou travar, sem êxito, a denúncia da África do Sul - muito bem fundamentada - no Tribunal Internacional de Justiça, instituição do sistema da ONU. Vieram ao de cima contradições profundas dos EUA e de grande parte dos seus aliados, em relação ao Direito Internacional e aos direitos humanos que dizem defender.

Os Estados Unidos e a Inglaterra desencadearam bombardeamentos aos houtis (só?) no Iémen. O Irão, que em regra atua através da ação de terceiros, já atacou diretamente o Paquistão e vice-versa - e são duas potências nucleares. O Iraque, a Síria e o Líbano estão a sofrer ataques. Na Europa a guerra na Ucrânia está sem saída à vista.

Temos uma evidência cada vez mais perturbadora: a ideia de se fazerem guerras com novas tecnologias, uns quantos milhares de mercenários, e com os povos “desenvolvidos” a assistirem no sofá, é uma miragem. As guerras têm fortíssimos sacrifícios humanos e estes estão a alastrar-se.


 
 
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Manuel Carvalho da Silva



 
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