O futuro do nosso país está cada dia mais bloqueado por políticas nacionais e europeias e por práticas de governação mentirosa e manipuladora que aniquilam a dignidade, a solidariedade, a liberdade individual e coletiva, que destroem a soberania e a democracia. Acontecimentos e informações que nos surgiram nos últimos dias parecem uma montra de terror. Neste espaço não é possível abordá-los todos e muito menos com a profundidade que se exige.
Um secretário de Estado, cumprindo uma orientação de estratégia de governação, convidou um conjunto de jornalistas para, através deles, como se estivesse num encontro de café, anunciar aos portugueses que as suas reformas vão ser todos os anos reduzidas. Se pensarmos dois segundos no que significa uma pensão de reforma para a vida de uma pessoa, o seu enquadramento legal e constitucional, os compromissos que cada cidadão teve de cumprir ao longo da sua vida de trabalho para garantir esse direito, só podemos concluir que já não vivemos numa sociedade democrática, sem secundarizar algumas liberdades que ainda vamos tendo.
É arrepiante o desprezo pelos direitos das pessoas, a total ausência de cultura democrática e a irresponsabilidade atrevida e provocatória que o ato significou. Os posteriores desmentidos e correções, feitos por vários membros do Governo, inclusive pelo primeiro-ministro, surgem-nos como mero exercício de camuflagem dos seus objetivos e confirmam os perigos e prejuízos que se estão a acumular com a manutenção deste Governo no poder.
Também nestes dias tomamos conhecimento de que a pobreza cresce aceleradamente e que a mobilidade descendente na sociedade portuguesa, inerente à estratégia de empobrecimento, se tornou um caminho inexorável.
A pobreza atinge fortemente a juventude e muitas famílias estão depauperadas. Os jovens são obrigados a organizar as suas vidas a partir da condição de pobre e dispondo de cada vez menos mecanismos de mobilidade social que lhes permitam ir melhorando a sua condição. Não têm emprego ou têm baixos salários, não conseguem proteção no desemprego, dispõem de cada vez menos condições de acesso à formação, ao ensino, à saúde, a apoios à família.
Quando estamos perante problemas graves - e alguns daqueles com que nos deparamos são mesmo difíceis de resolver - o que há a fazer é encará-los e encontrar respostas novas, nunca utilizá-los para amedrontar e submeter, prosseguindo no caminho que os produziu e agrava. Infelizmente, os indicadores mais concretos que se nos apresentam, em resultado das políticas seguidas, são, para além da pobreza: i) brutal aumento da dívida e do serviço da dívida - as previsões "otimistas" do Banco de Portugal sobre crescimento económico não asseguram a sustentabilidade da dívida e muito menos as imposições do Tratado Orçamental; ii) desemprego insustentável e perigoso abaixamento da qualidade do emprego; iii) quebra continuada de atividades de produção de bens e serviços úteis e indispensáveis para a sociedade; iv) despovoamento e envelhecimento do país que, como Joaquim Azevedo referiu esta semana, nos pode reduzir, a prazo curto, à população da época medieval, inviabilizando a soberania do país em tempos modernos; v) transferência de milhares de milhões de euros por ano dos rendimentos do trabalho para os rendimentos do capital.
Há que trabalhar arduamente soluções a partir desta realidade para a transformar, e não com base nos cenários ficcionados pela propaganda do Governo, relativa aos "sinais positivos que nos dão confiança". Chega de burla política. Os portugueses não ensandeceram. Não nos deixemos esmagar pelo sofrimento, pelas injustiças, pela tristeza.
Reforçam-se os argumentos dos que denunciam o desastre das políticas europeias e nos demonstram, como fez recentemente Joseph Stiglitz, que a União Europeia tem de fazer profundas mudanças estruturais e que o euro e as políticas financeiras não podem continuar a servir para fazer fluir "o dinheiro dos países mais fracos para os mais fortes".
O Governo, o PR e os que hesitam em forçar alternativas, ao seguirem caminhos que acentuam os problemas, estão a aniquilar o país.