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28-12-2013        Jornal de Notícias

 Em Portugal, como na União Europeia, as forças sociais e políticas que queiram fazer vencer na sociedade propostas para a saída da "crise" por caminhos de desenvolvimento humano e afirmação da democracia, têm de colocar o sindicalismo como objeto de análise e considerar os seus objetivos e ação na construção e aplicação dessas propostas.

Quando nos debruçamos sobre o lugar e o valor do trabalho nas sociedades modernas e nos equilíbrios necessários a uma boa gestão dos avanços científicos e tecnológicos; quando analisamos as causas da "crise", buscando reformas e ruturas que perspetivem futuro; quando estudamos as profundas relações entre a dignificação do trabalho e a conquista das dimensões sociais inerentes à conceção do Estado moderno; quando refletimos sobre os contributos dados pelo sindicalismo no combate às injustiças, ao enfraquecimento da democracia, ou na luta contra a guerra e pela paz; quando observamos o seu papel determinante nos processos de reconstrução das sociedades, depois de enormes descalabros como as duas guerras mundiais do século passado, ou depois dos estragos de ditaduras - concluímos, sem dúvida, que não há alternativas a este desastroso caminho de empobrecimento e de retrocesso social e civilizacional, sem ter em conta o que os sindicatos representam e propõem.

Portugal precisa de um sindicalismo que denuncie e proteste perante os saques que estão a ser feitos aos trabalhadores e ao povo, que defenda emprego e lute pela sua criação, que tenha os problemas dos jovens e dos desempregados como grandes preocupações, que se bata pelo direito a salário digno, a horários de trabalho bem definidos e controláveis. Um sindicalismo que elabore propostas e se bate por elas até aos limites possíveis, um sindicalismo de ação e de luta.

A democracia está a ser posta em causa, o futuro de gerações está a ser bloqueado no mesmo processo que atrofia a soberania do país. As expressões de protesto, as formas de fazer vingar propostas justas, as lutas a desenvolver por políticas alternativas, só podem ter como limites o que deve ser feito em democracia para que esta não seja aniquilada. Os tempos são de justa indignação!

Em tempo de enormes bloqueios no aceso ao trabalho e a condições mínimas de segurança e estabilidade, a colocação dos problemas da juventude (mais ou menos qualificada) na agenda sindical é um enorme desafio, superável através da conjugação de esforços com múltiplas organizações e movimentos. O mesmo se passa com o desenvolvimento de reivindicações dos desempregados, ou com a elaboração de estratégias de defesa da igualdade, que está a ser posta em causa em várias áreas. Por outro lado, há que ter em consideração que a geração mais velha nunca significou tanto na sociedade como atualmente e pode vir a ter um papel na saída desta "crise" e nos processos de transformação da sociedade, bem mais significativo que em bloqueios anteriores.

As forças e retrógradas continuarão a dizer que o sindicalismo é passado, mas nenhum democrata de qualquer quadrante avalizará tal perspetiva. Os verdadeiros sociais-democratas sabem que a social-democracia europeia (e não só) se alimentou e conjugou com os valores, os objetivos estratégicos e a ação dos sindicatos. É tempo de, nas forças e partidos políticos que se afirmam herdeiros destes espaços, correr com as conceções neoliberais e tomar a sério o lugar e os valores do trabalho. À esquerda conhece-se bem o papel da organização, das propostas e da luta dos trabalhadores.

A construção de plataformas de entendimento à esquerda necessita de uma forte dinâmica social, assente em propostas onde se conjuguem pequenas mudanças com objetivos estratégicos em dimensões locais, nacionais e europeias. O movimento sindical é um dos atores que - a partir da elaboração e da apresentação de propostas, que tem de fazer na sua relação com parceiros económicos, sociais e políticos, e da sua ação e luta geral - pode ajudar muito na construção de alternativas.

Em 2014, a personagem determinante na sociedade portuguesa tem de ser o povo, rechaçando o sofrimento e impondo, pela ação e pelo voto, um rumo novo com futuro para o país. O sindicalismo poderá, e por certo vai dar, um bom contributo para estes objetivos.


 
 
pessoas
Manuel Carvalho da Silva



 
temas
sociedade    sindicalismo    democracia