O que aconteceu aos centros comerciais? Já não entro num desde 2011.
Eram uma promessa de futuro; a partir dos anos 1980 abriram-se, espacializaram-se, seduziram-nos. Acenaram-nos com tentadores franchisings, pavimentos de calçada em borracha e a evocação de descobridores marítimos. Agora, com alguma sorte, seguimos rio abaixo. Não eram shoppings, eram homenagens: aos oceanos, no Vasco da Gama; ao grande descobridor português, no Colombo; à "indústria têxtil do Norte" (mais terra-a-terra) no Norte Shopping. O Braga Parque propunha-se como terminal de um futuro aeroporto; mais um que não soubemos concretizar.
Os pequenos, furtivos e subestimados centros comerciais de primeira geração são mais renováveis, se entretanto tiverem sobrevivido. O pioneiro Apolo 70, em Lisboa, é um desses casos; o Stop, no Porto, transformou-se num polémico conjunto de estúdios para bandas; o Avenida, em Coimbra, resiste pontualmente com comércio alternativo, costureiras e uma sex-shop. Devia ser subsidiado pelo município.
Se o centro comercial está para o urbanismo chique como o Rocky para o cinema, as Amoreiras foram o Indiana Jones: o mainstream a entrar na "alta cultura" e a consequente polémica cinéfila.
O que aguenta hoje os centros comerciais são os supermercados e as "praças de restauração", como acontecerá no renovado Alvalade, ou como sucede no Shopping Cidade do Porto. As "lojas âncora" são agora os supermercados. O comércio dos bens essenciais. Quando sabemos que se um centro comercial não assenta no supérfluo é um travesti, um engodo.
Quem imaginaria que os shoppings viriam a ser o bastião dos bens de primeira necessidade, ou lugares de culturas alternativas?
A crise e o turismo confluem na redescoberta dos encantos do "ar livre", esse inimigo fulminante do centro comercial. Não tendo dinheiro, as pessoas preferem passear em lugares onde isso não seja recordado permanentemente. O espaço aberto nos shoppings pós-Amoreiras, a alegria das cores pós-modernistas, e depois a severidade minimalista, são agora um pesadelo. Para quê tanta alegria, tanta severidade, se o espaço não nos dá dinheiro?
Os promotores queixam-se, com razão, da concorrência do comércio tradicional.
O Colombo já recorreu a Andy Warhol, de quem apresentou uma exposição. Mas a redenção dos grandes centros comerciais só é imaginável com a integração de eventos como o "piquenicão": porcos a passear na Zara; ovelhas na Massimo Dutti; girassóis na Pré-Natal. Os saldos permanentes ou Warhol não são suficientes; só mesmo o contacto com a natureza.
Já em 1988, David Byrne cantava com remorso: "There was a shopping mall/ now it"s all covered with flowers." Ainda vamos ter saudades dos centros comerciais.
Será que voltarei a entrar numa loja? Sentir a antipatia que era obrigatória?