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06-07-2013        Jornal de Notícias

Acabe-se com o enxovalho! Não podem prosseguir as humilhações que vêm sendo feitas ao povo, à República Portuguesa, ao regime democrático que tanto sacrifício exigiu para ser conquistado. Quem não se dá ao respeito não é respeitado! Quem não assume a verdade dos factos com que lida sujeita-se a que outros o humilhem e o submetam, exatamente pelo conteúdo das mentiras.

O governo da Sr.ª Merkel afirmou há dois dias, sobre a situação política portuguesa, "o caminho é difícil mas é o único que garante o sucesso". Isto é um insulto ao povo português, só possível porque o nosso governo faz da mentira um instrumento de governação para subjugar a sociedade portuguesa.

De que sucesso fala esta gente?

Do empobrecimento generalizado, da destruição de empresas e do Estado Social, do brutal agravamento do desemprego, cujo número total de desempregados é hoje superior em mais de 330 mil às "previsões" da troika, da recessão económica que é umas quantas vezes maior do que aquilo que nos haviam dito que ia acontecer, da emigração forçada de milhares e milhares de jovens qualificados?

Deitemos mão das aprendizagens feitas no nosso longo e rico percurso histórico como povo e como nação, das nossas capacidades, recursos e valores. Discutamos com serenidade e seriedade os desafios e os sacrifícios a assumir, mas com a certeza de que é um futuro digno que encetamos.

O apodrecimento do governo PSD/CDS contamina perigosamente toda a sociedade, põe em causa os valores da política, da democracia, da soberania do país.

É preciso realização de eleições no mais curto espaço de tempo possível. Só a intervenção esclarecida e consciente do povo pode sustentar uma solução. Mas estas eleições têm de ser caracterizadas pela verdade na análise dos problemas, no rigor das propostas, na clareza dos argumentos e, acima de tudo, nos compromissos de governação.

Desiludam-se os que pensam que é possível estar de bem com Deus e com o Diabo, pois as mudanças profundas, as ruturas que hão de surgir, vão obrigar a clarificações. O prosseguimento de compromissos políticos e sociais, característicos do velho centrão de interesses instalados, comprometerá o futuro de Portugal.

Nós não estamos meramente perante a "crise da dívida pública", mas sim num processo muito complexo que abrange o conjunto da UE e, em particular, da Zona Euro. Em Portugal esse processo tem várias dimensões, designadamente: (i) a desarticulação profunda do setor produtivo - o seu enfraquecimento geral e a desindustrialização - com perda direta de centenas de milhar de empregos e fortíssimas limitações futuras para a criação de emprego; (ii) a crescente dependência do sistema financeiro, com endividamento galopante das pessoas e das empresas; (iii) a canalização de recursos financeiros para setores especulativos e rentistas, que também tem facilitado a saída do país de milhares de milhões de euros; (iv) uma brutal transferência do rendimento do trabalho para o capital.

O Estado não pode ser o duro cobrador de impostos para alimentar o mercado da dívida, os mercados sanguessugas da saúde ou do ensino e negociatas de grandes interesses privados. É preciso um sistema fiscal justo, uma aplicação do nosso dinheiro no investimento e na garantia de direitos sociais fundamentais.

Se não queremos uma sucessão de resgates, então temos mesmo de conseguir renegociar a sério a dívida. Ou reduzimos a dívida e os seus encargos, ou ela nos destrói.

Temos de responder a situações de carência e de pobreza, mas é imprescindível colocar a criação de emprego como primeira prioridade na discussão das atividades úteis que podemos desenvolver, da discussão da industrialização, da inovação, da competitividade, das qualificações e formação.

Uma alternativa efetiva tem de discutir e definir caminhos a percorrer, no plano nacional e europeu, face a uma situação de bloqueios financeiros com que podem tentar chantagear-nos.

A rutura com as políticas dominantes no país e na UE é difícil, mas é uma necessidade e a única via para retomarmos o caminho do desenvolvimento


 
 
pessoas
Manuel Carvalho da Silva



 
temas
crise    desemprego    dívida pública    impostos