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10-05-2013        Diário de Notícias

O bloco político e social que apoia a governação do país faz da afirmação de dogmas a sua forma de disputa da hegemonia no terreno das ideias e das políticas. A negação de que haja alternativas ‘sérias’, ‘realistas’ e ‘credíveis’ fora do espaço da rendição à austeridade e ao empobrecimento é a ferramenta tática por excelência de que esse bloco faz uso para a dogmatização do debate. Por isso, é na amplitude e radicalidade da disputa e na consistência política das escolhas que se joga a capacidade de ser oposição.

A qualificação da rábula da suposta demarcação de Paulo Portas face à política de austeridade do Governo como expressão de uma estratégia eficaz e inteligente de oposição é uma rendição à estratégia de quem manda. Os comentadores-dirigentes-do-PSD e os comentadores-dirigentes-do-PS irmanaram-se no sublinhado da importância da suposta oposição à la Paulo Portas: estar por dentro, apoiar o mais possível tudo e mais alguma coisa, mostrar ‘realismo’ e dar ares de ‘homem de Estado’, voltar a apoiar tudo e mais alguma coisa e fazer uma grande farronca sobre uma medida que já se sabe que não é para levar a sério. Elevar esta rábula primária de Paulo Portas à categoria de oposição é gozar com o povo. Portas não conseguiu mudar nada – nem, de facto, alguma vez o quis – porque, ao colocar-se convictamente dentro do espaço do ‘realismo’ e da ‘seriedade’ que apoia a austeridade, ele apoia realmente tudo o que o seu Governo propõe. Ora, Paulo Portas e o CDS não são consciência social desta maioria coisa nenhuma. Porque pura e simplesmente ela não a tem e não a quer ter. São protagonistas e não figurantes; são convictos e não resignados; querem a austeridade, a diminuição das pensões e o esvaziamento das prestações sociais e não a sua moderação sensata; são autores desta política e não seus intérpretes momentâneos e críticos.
  
A velha tática da direita de ser simultaneamente poder e oposição para poder ganhar nos dois tabuleiros é um embuste e uma desonestidade política sem limite. Que outros se lhe rendam e ajudem a dar-lhe estatuto de coisa séria é algo particularmente grave. No fundo, são oficiantes da mesma liturgia que sugere que a oposição serve para conter os danos de uma política inevitável e que se o conseguir merece hossanas.

A oposição ao governo da austeridade não é um truque nem um exercício de simulação. É a afirmação clara de um contraste e a defesa lúcida e corajosa de uma alternativa de conjunto ao modelo social que se está a implantar e às políticas que lhe dão suporte. Por isso, um discurso de oposição séria começa por não aceitar os pressupostos da governação. Aceitar disputar a hegemonia da direita no campo definido pelos seus pressupostos ideológicos é jogar para perder por poucos, não para derrotar o adversário. E quem assim joga arrisca-se a levar uma abada monumental.

A oposição ao governo da austeridade não se limita a um conjunto de soluções técnicas diferentes, com mais uma pitadinha de crescimento e uns gramazinhos de ‘consciência social’, ‘porque não dá para mais’. Afirmar sem hesitações que o Estado Social é músculo e não gordura da democracia, defender em coerência que é no reforço e não na fragilização do Estado Social que o país tem que apostar e ter o discernimento de mostrar que essa escolha exige uma outra – uma renegociação dos prazos, dos juros e dos montantes da dívida e o alinhamento solidário com outros Estados triturados pela ditadura da dívida – isso sim é a oposição exigida por uma democracia digna desse nome.


 
 
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José Manuel Pureza



 
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