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22-02-2025        Jornal de Notícias

Fortes convulsões e perturbações político-sociais marcam o presente. Encontramo-nos no meio de uma revolução. Quem faz análise política e social com sentido crítico, olhando o mundo para além da bolha em que está metido, constatava o descambar de muita coisa, mas não previa a velocidade e amplitude das mudanças em curso.

Está em marcha a recuperação do obscurantismo, a utilização manipuladora do misticismo que nos apresenta “bandidos” como enviados de Deus, o desprezo pela ciência, a utilização da mentira e do insulto como material corrosivo que destrói os organismos estabilizadores de valores e do funcionamento da sociedade. A estratégia passa por evidenciar e atacar as instituições que dão sinais de doença, para demolir tudo. Depois, (re)construí-las, mas impregnadas da ideologia e com os instrumentos que sirvam o neofascismo que se vai afirmando.

Trump fala em nome dos Estados Unidos da América (EUA) apoiado num movimento social obscurantista inculcado na sociedade norte-americana, articulado com poderes económicos, financeiros e culturais fortíssimos. Esta semana, Musk, na sua rede social, ridicularizou uma pessoa cega que afirmara perante o Congresso não ver evidências de desperdício de recursos no Governo, associando maldosamente essa afirmação à condição daquela pessoa. No nosso Parlamento tivemos deputados do Chega tentando achincalhar uma deputada cega do Partido Socialista. Entretanto, prosseguiram as posições indecorosas de Trump e do seu vice, estilhaçando a diplomacia e as regras das instituições.

Nos EUA está a expressão maior de um processo de regressão profunda que se alarga, no mínimo, ao Ocidente. Isto, em tempo de enormes movimentos geopolíticos e com a União Europeia (os seus países) secundarizada. Precisamos de olhar a similitude da atual situação com o contexto da I Guerra Mundial. Todavia, observando uma “pequena” diferença: nos últimos séculos, é a primeira vez que a(s) potência(s) que disputam a liderança mundial não são ocidentais. E, tendo presente que a geopolítica se move num quadro em que a globalização produziu resultados não previstos, e os negócios se realizam no processo de financeirização com impactos nunca imaginados.

Os bloqueios com que a UE se depara são fortes. Ausência de qualquer plano de paz (é isso que está em discussão, apesar de poder haver razões de dúvida), e incapacidade de resposta ao acantonamento em que está colocada nos planos político e económico.
O CEO da Apple disse, recentemente, “a China deixou de ser o país do baixo custo da mão de obra há muitos anos”. As grandes empresas vão para lá “pelas qualificações” e pela cultura do saber fazer e valorização do produtivo. Por cá soube-se que vários dos nossos governantes, quando não estão no Governo, são empreendedores do imobiliário. Isto diz tudo sobre a desgraça em que caiu o perfil de especialização da nossa economia. Não deitemos a toalha ao chão.


 
 
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Manuel Carvalho da Silva



 
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EUA    democracia    Europa