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30-11-2024        Jornal de Notícias

O valor económico e o valor social do trabalho não são separáveis. O caminho percorrido desde as sociedades esclavagistas propiciou aos seres humanos poderem vender a sua força de trabalho a troco de um salário. Nesse percurso foram aprofundados os pré-requisitos que sustentam a dignidade da pessoa humana e alcandorou-se o trabalho a direito universal. Nesta caminhada de avanço civilizacional houve sempre obstáculos a vencer e até retrocesso, em particular, em tempos de guerras.

No presente, a utilização de novos instrumentos de trabalho vindos do avanço tecnológico e científico - que propicia a criação de imensa riqueza - está a servir, cinicamente, para estilhaçar direitos fundamentais do trabalho, e aumentar a exploração de milhões e milhões de trabalhadores à escala global. Esta dinâmica destruidora tem profundas conexões com a deriva neoliberal da atual fase do capitalismo.

O mercado de trabalho está cheio de formas de contratação idênticas às velhas praças de jorna - desta vez à escala global. Para isso contribui a utilização das tecnologias digitais e algoritmos vindos dos artifícios tecnológicos da inteligência, e o poder desmedido de quem os controla. As pessoas apresentam-se perante as entidades contratantes (privadas ou públicas) sem o mínimo poder para discutir o salário e as condições da prestação do trabalho.

O valor que o mercado atribui ao trabalho é um péssimo indicador para o estabelecimento de remunerações justas. Na pandemia de covid-19 tornou-se pungente a observação da injustiça que se abate sobre imensos trabalhadores e trabalhadoras que prestam serviços indispensáveis aos cidadãos e à sociedade. Recebem salários baixíssimos e trabalham horas excessivas a tentar sair da pobreza. Os prestadores de cuidados às pessoas fazem um trabalho de valor extraordinário, mas não reconhecido no mercado. Em contrapartida, são valorizadas atividades socialmente inúteis que promovem a especulação, consumos ostentatórios e estilos de vida fúteis.

O trabalho sustenta a criação de valores de uso e de troca. Mas, sob pena de se tornar alienante, não pode dispensar a consciência ética e as regras deontológicas.

O trabalho precário e desregulado opõe-se às necessárias qualificações dos trabalhadores e é inimigo de profissões e carreiras profissionais. O trabalho à distância não regulado e o trabalho à peça (designadamente nas plataformas) minam os direitos no trabalho e as solidariedades que os enformam.

O trabalho requer ensino, informação, comunicação e cultura. Exige participação e o dispor do tempo. Reclama saúde física, equilíbrio emocional e condições de realização pessoal. Põe em evidência a necessidade de outras atividades para além do trabalho.

A revitalização do Direito do Trabalho, a liberdade sindical, a representação e negociação coletivas são cruciais no combate aos enredos de alienação.


 
 
pessoas
Manuel Carvalho da Silva



 
temas
sociedade    economia    trabalho