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27-07-2024        Jornal de Notícias

Pensadores de várias áreas do saber vêm dizendo que nos deparamos hoje com uma perigosa “ausência de utopias disponíveis”. Sabemos que sem elas é difícil gerar esperança transformadora. Todavia, tal constatação não pode pear-nos no agir, fator determinante para abrir horizontes. Durante a semana, observou-se um enorme avolumar de ondas perigosas que, se chegarem à “areia”, farão submergir conquistas civilizacionais fundamentais.

Impõe-se um grande esforço de observação, onde não cabem pretensas neutralidades axiológicas a sustentar análises fechadas nas verdades “ocidentais”. Os grandes problemas com que nos deparamos são universais, as respostas deverão ser partilhadas e construídas, com paz, sob pena de não existirem.

Neste tempo de forte ebulição política, de necessidade de defesa de valores e de aquisições civilizacionais positivas (que construímos em contextos concretos), é mau que o presidente dos Estados Unidos da América (EUA) se proclame, como recentemente fez, “líder do Mundo”, e que este grande país e aliados subservientes se atolem em contradições. A história da humanidade está cheia de impérios que implodiram.

Tal afirmação foi feita no tempo da visita do primeiro-ministro israelita, Benjamim Netanyahu, cujas práticas são condenadas, de forma pesada, tanto pelo Tribunal Penal Internacional como pelo Tribunal Internacional de Justiça (ONU). Recebido pelos mais destacados dirigentes norte-americanos, colheu no Congresso uma patética apoteose de significativa parte dos congressistas, mesmo com um discurso miserável. Se houvesse coerência nas posições “ocidentais”, devíamos estar a pedir que se aproveitasse a sua deslocação aos EUA para o prender, como é reclamado em situações idênticas.

Iniciaram-se os Jogos Olímpicos em Paris e lá surge de forma descarada a política de dois pesos e duas medidas dos “ocidentais”. A Rússia e a Bielorrússia foram excluídas por não respeitarem as tréguas, enquanto Israel, que vem praticando autêntico genocídio em Gaza e continua a matar durante este período, tem a sua delegação a participar com destaque em vários planos. É uma vergonha e tudo isto se pagará caro.

O secretário-geral das Nações Unidas (António Guterres) fez mais um premente alerta: tivemos três dias seguidos a serem batidas, sucessivamente, as temperaturas mais elevadas que o planeta registou no atual tempo histórico; e o último mês de junho foi o mais quente de sempre, depois de o junho de 2023 já ter sido um recorde.

Na Cimeira do G20, que decorreu no Brasil, este tema, como o da fome, o das desigualdades profundas, o da pobreza, o da ausência de compromissos para um “desenvolvimento sustentável” e a necessidade de taxação dos super-ricos, estiveram na agenda como problemas prementes. Vamos prosseguir na imposição do crescimento desenfreado, sem distribuir melhor a riqueza e pagar melhores salários? E com políticas migratórias despidas de humanismo? E com economias de guerra que cilindram o Estado social e sem qualquer atenção ao ambiente?

Deitemos mão do que, em termos de valores e instrumentos de ação, ainda resiste em muitas instituições. São necessários contrapoderes e a demonstração de que a vida em sociedade não é um mero somatório de jogos individuais: exige compromissos coletivos.


 
 
pessoas
Manuel Carvalho da Silva



 
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