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25-11-2023        Jornal de Notícias

Os resultados das eleições presidenciais na Argentina e parlamentares nos Países Baixos são duas vitórias da extrema-direita na sua perigosa cavalgada. A situação política, económica, social e cultural, bem como as localizações geográficas dos dois países, é distinta. E, enquanto nos Países Baixos o vencedor deitou mão do racismo puro e duro e da fobia ao imigrante como elementos centrais do discurso, na Argentina imperou a demagogia sem limites face a uma população muito empobrecida e descrente.

Contudo, as principais ideias inculcadas nas pessoas pelas forças vencedoras foram idênticas: i) a necessidade de “alterar o estado das coisas”; ii) a ideia de que é precisa “uma barrela política” para afastar os atores políticos que têm estado no exercício de funções (menos eles), restringindo o problema da corrupção ao campo da política; iii) a apresentação da extrema-direita como representante de um povo pretensamente puro, que afronta as elites políticas corrompidas e o povo impuro, cavando divisões e ódios.

No plano nacional e no quadro da preparação das eleições do próximo dia 10 de março, o Chega e, em parte, a direção da Iniciativa Liberal (IL) adotam aquelas argumentações e as mesmas formas de atuar. Os portugueses também acumulam fatores de descrédito perante programas políticos e políticas concretas que, em várias áreas, não resolvem os seus problemas. Isso torna-os permeáveis a tais narrativas.

Os sacripantas da nossa extrema-direita conduzem, há muito tempo, um processo de manipulação de informações e de factos políticos, de calúnias, de julgamentos de diverso tipo na praça pública, ou até no seio da Assembleia da República. Falam-nos dos “portugueses de bem” que pretensamente representam, repetem a necessidade de “limpeza” da política (o resto, mesmo que esteja sujo, não é preciso limpar) e sempre acharam, falsamente, que a democracia só nos trouxe atrasos. E, tal como noutros países onde políticos execráveis ascendem ao poder, tentam manobrar na judicialização da política.

O que se passa com o processo que levou ao pedido de demissão do primeiro-ministro é exemplar. O Chega, partido inimigo da Constituição da República, apresenta-se perante a sociedade como grande defensor do Ministério Público (MP). Agora também começou a “defender” o presidente da República. A importância do MP, do seu enquadramento constitucional, das suas funções e, desde logo, da sua independência, impõe aos próprios, mas também a todas as instituições e democratas uma reflexão autocrítica.

Infelizmente, há quem, de forma leviana, alimente a ação da extrema-direita. Carlos Moedas, ao protagonizar a evocação do 25 de novembro de 1975 como data de grande significado na democracia portuguesa, inclusive contra a opinião dos principais atores militares, políticos e civis envolvidos no processo, desencadeia divisões e ódios e, objetivamente, enfraquece o 25 de Abril. O que pretende? Fatiar as comemorações entre os que são a favor do 28 de setembro de 1974, os que preferem o 11 de março de 1975, ou os que optam pelo 25 de novembro?

O 25 de Abril foi único, foi o dia primeiro, “inteiro e limpo”, da esperança partilhada de mais justiça, igualdade e desenvolvimento que se expressou no dia 1. de Maio de 1974.

E as duas datas que confirmam o caminho da democracia são o dia das eleições para a Assembleia Constituinte e a entrada em vigor da Constituição da República.

Precisamos de exercício pleno da democracia, não de barrelas manipuladas pelos seus inimigos.


 
 
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Manuel Carvalho da Silva



 
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