O historiador Nicolau Sevcenko (FFLCH/USP) lançou o livro “A corrida para o século XXI: no loop da montanha russa”. Crítico singular dos processos históricos que negligenciam o elemento existencial para construção de uma experiência coletiva, Sevcenko cunhou o termo refuseniks para discriminar grupos alternativos que confrontam as contradições do capitalismo com a arte/cultura perfomativa.
O conceito se refere àqueles sujeitos que deliberadamente são resistentes às mudanças sociais, culturais, éticas e ecológicas que tornam a vida alienada de sentido e encantamento. São refratários à mercantilização de corpos/mentes que oblitera a comunhão da vida social com a natureza. Céticos do consumismo como justificativa ou terapia “por excelência para aliviar o mal estar gerado pela própria essência desse sistema centrado no mercado e não nos valores humanos” (p. 88).
Compreendendo o consumo como a antítese da ação política, pois se insere na lógica do do pensamento único (ou liberalismo democrático), prevalece um estado de torpor quase generalizado frente à exclusão daqueles/as que não são mais rentáveis na sociedade produtora de mercadorias.
Para contestar essa anomalia social - que envolve a metamorfose de toda e qualquer expressão cultural em mais dinheiro - o historiador propõe criar uma antiestética das ruas. Uma revolução nuclear naquilo que está a ser expropriado deliberadamente: a essência libertária através da “retomada e requalificação do espaço público, por gente simples e anônima, com o objetivo de revitalizar os laços comunitários e refundar a democracia” (p. 129).
A idéia, aparentemente simples, envolve o despertar das gentes para ações políticas diretas, callejeras, sem a utilização dos canais tradicionais da burocracia parlamentar que se mantém dependentes dos interesses do mercado. Portanto, em detrimento das demandas reais das pessoas por um presente-futuro sustentável e criativo.
A palavra-chave é subversão. Literalmente romper os grilhões da submissão silenciosa e marcar presença na formulação ativa de políticas públicas. Um ótimo exemplo é o “Reclain the streets” (Londres, 1990) que fomenta por meio de performances artístico-culturais a ecologia das cidades em contraposição ao lucro fácil que deteriora/corrompe a dinâmica comunitária e sua economia local.
Neste cassino que é o capitalismo, resgatar a práxis coletiva no espírito da urbis pulsante - sem incorrer nos equívocos da iniquidade econômica, etnico-territorial e identitária - poderá reconfigurar “a batalha ética pela definição de valores que devem orientar o futuro de nossa espécie e deste planeta (...) Que assim seja. E assim será, se nós o quisermos” (Nicolau Sevcenko, 2001, p. 131).