Em Coimbra, a Baixa parece estar a recupera lentamente de um longo período de decadência, o qual foi reconhecido por gente de todo o lado que visita a cidade.
Mas está ainda muito longe do auge de outros tempos. A recuperação total da Baixa passa efectivamente por um complexo envolvimento combinado de iniciativas e de agentes que, cada um/a na sua função, poderá ajudar no processo. Elencarei alguns dos mais importantes.
O comércio, que tem de voltar a servir a cidade e não exclusivamente o turismo. Se o comércio servir em exclusivo a procura turística, é certo e sabido que se autoelimina muito facilmente. Os próprios turistas não querem visitar áreas que lhes são exclusivamente dedicadas, sobretudo os que visitam cidades, como é o caso. Em vez de visitar uma cidade, percebem que estão a visitar um tesourinho deprimente do dito “património”, um parque temático que é encenado para eles. E essa oferta desgastase num ápice. Se isso acontecer, em breve teremos a decadência a regressar.
A nova rede axial de mobilidade colectiva, o Metrobus, ao localizar na Baixa o seu hub central, ou seja, o interface entre as duas linhas, linha Serpins- Coimbra B e linha do Hospital, dá certamente um contributo forte ao propósito da recuperação. Seria também muito necessário que alguns dos pontos de intermodalidade de rebatimento com as futuras linhas dos SMTUC, que ainda não são conhecidos, fossem também localizados na Baixa.
Mas os antigos serviços públicos, Correios, Arquivos de Identificação, Governo Civil, etc. também contribuíam de sobremaneira para a vida intensa que a Baixa tinha outrora. Os Correios centrais, com a feliz iniciativa da escola experimental Tumo, levada a cabo por um conjunto de empresas em parceria com a Câmara Municipal, já foi uma boa redenção para muitos anos de abandono.
Aqui há alguns anos atrás, quando o executivo municipal liderado pelo Dr. Carlos Encarnação manifestou a intenção de deslocalizar o Arquivo Municipal para Eiras, escrevi uma carta à Vereadora responsável, a Senhora Doutora Maria José Azevedo Santos, tentando sensibilizá-la para a responsabilidade que a Câmara Municipal tem neste processo de recuperação da Baixa. Essa responsabilidade não permite que os seus serviços mais centrais abandonem esse espaço. Houve compreensão imediata da parte da Senhora Vereadora, a quem para sempre fico grato, e o projecto foi abandonado.
Agora, uma notícia recente anuncia novamente essa possibilidade do Arquivo ser deslocado para a zona de Eiras. Nada tenho contra Eiras, entenda-se, assim como nada tenho contra o bairro onde vivo, até gosto muito dele. Só não acho que o Arquivo Municipal deva deslocar-se para fora da Baixa, nem para Eiras, nem para o meu bairro, nem para qualquer outro local.
O Arquivo é utilizado por muita gente, investigadores, estudiosos da cidade, cidadãos comuns à procura de memórias arquivadas. O seu lugar é no centro da cidade. É num ponto fulcral das acessibilidades urbanas como o que ocupa neste momento. Acresce que o local onde se implanta é dos poucos no centro consolidado que tem capacidade de crescimento. Essa ampliação não só é possível, como é desejável, porque ajuda a clarificar, do ponto de vista urbano, uma área inacessível e meia abandonada. Para além do mais, a sua ampliação poderia ajudar a compatibilizar a escala do edifício com os que lhe são contíguos: o antigo Centro de Saúde da Av. Sá da Bandeira, agora em obras de reabilitação, o Mercado e até mesmo a antiga Manutenção Militar, que o executivo actual pretende, e bem, transformar em escola artística.
A Universidade já contribuiu para adensar a Baixa com serviços, ao localizar o Centro de Documentação 25 de Abril e o Centro de Estudos Sociais no Colégio da Graça, na Sofia. Saúda-se a intenção do Ministério da Justiça de localizar a nova sede da Polícia Judiciária entre a Baixa e a Rua de Aveiro, só é incompreensível que o mesmo ministério não ponha mãos à obra do novo Palácio de Justiça ao fundo da Rua da Sofia.
Assim, perante o cenário globalmente positivo de renovação daquela zona, é muito preocupante que o Arquivo Municipal saia do local onde se veio a implantar nos últimos anos. O que deve ser feito é redignificar e ampliar o actual edifício.
Lentamente, muito lentamente, e por intervenção de diversas entidades, a Baixa começa a ver algumas das suas funções vitais a ser retomadas. Não faz sentido que seja a própria esfera decisória municipal a amputar-lhe esta.