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12-11-2022        Jornal de Notícias

A ganância, o egoísmo e a sobranceria cegam e enlouquecem. É isto que vemos desde a escala global à nacional. Na Cimeira do Clima das Nações Unidas (COP27), que está a decorrer no Egito, António Guterres alerta-nos que “estamos numa auto-estrada para o inferno”, enquanto dirigentes políticos de diversas latitudes juram, pela enésima vez, que agora é a sério o seu combate às alterações climáticas. Todavia, a realidade evidencia aumento das preocupações e reduz a esperança.

A afirmação da Srª Von der Leyen, de que precisamos de “um bilhete limpo para o céu”, foi feita ao mesmo tempo que o apelo do Comissário Thierry Breton às construtoras automóveis para produzirem mais carros de combustão. Os dois fazem parte das elites das gerações atuais que, egoisticamente, estão a trair as gerações seguintes.

Reconheço empenho sincero em alguns responsáveis pela Cimeira e em parte dos participantes, mas as contradições são imensas e bloqueadoras. A iniciativa tem patrocínios e apoios de entidades privadas predadoras diretas do ambiente e referências de um estilo de vida demolidor. A forma como o crescimento económico ocorre á escala global está na base de tensões que geram guerras, poluição, degradação ambiental, desertificação, delicados processos migratórios de deserdados, pobreza e escravatura ignóbeis nesta sociedade de tanto conhecimento científico e tecnologico.

Só caminharemos para soluções quando se falar menos de crescimento para os que já são ricos e muito mais de distribuição da riqueza. Mas, quando chegaremos lá se a prioridade em curso é alimentar o belicismo e favorecer a acumulação desmedida da riqueza por parte dos que tem poderes fátuos? O pior do capitalismo mais selvagem brota em força por todo o lado.

Os conflitos alastram e ninguém parece ver como se descalça a bota da guerra na Ucrânia, que está no epicentro de lutas entre impérios e, consequentemente, das profundas mudanças geopolíticas.  Não se pode permitir o esmagamento deste país, mas poderia ser trágico humilhar ou fragmentar a Rússia, como ato estratégico para afrontar um conjunto de potências emergentes e em particular a China. Os Estados Unidos da América, potência tida por muitos como a interprete do Bem e da Democracia, é hoje uma sociedade dividida entre bons e maus. É assim que se catalogam entre eles, e isso pode ser um outro grande perigo.
A pandemia e os impactos da guerra evidenciaram a necessidade do que se designa por “desglobalização”, com reorganização de cadeias de produção e de distribuição. Como vão os países europeus, com dirigentes que parecem baratas tontas, apostar na (re)industrialização e produção de bens e serviços indispensáveis, poluindo menos e melhorando condições de vida e de trabalho a muitos milhões de cidadãos?

No nosso país, é hoje bem claro que não eram as reivindicações dos partidos à esquerda do Partido Socialista que impediam o anterior governo de uma governação dinâmica, justa e transformadora nos planos económico e social. A gula contribuiu para enfraquecer essas forças que catapultaram aquele partido para o poder. Temos agora um governo enredado em “casos” geradores de suspeições que alimentam o populismo, alguns governantes quase a gritar tirem-me daqui e outros entretidos na gestão da agenda mediática, deixando os grandes problemas sociais e económicos sem resposta. A Direita vai tratando do banho maria e espera a implosão. São desnortes preocupantes. 


 
 
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Manuel Carvalho da Silva



 
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