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10-11-2022        A Tarde [BR]

2022 será lembrado pelas eleições mais esdrúxulas da história brasileira. Não apenas pela ausência de temas-chave em propagandas e debates – crescimento econômico, desemprego, fome, reforma fiscal, fontes de fomento à educação, ciência, saúde etc. - mas, basicamente, pelo desprezo pela política e pela democracia.

Esse desgaste, como poderemos verificar, está relacionado com o recrudescer da barbárie como modus operandi frentre ao atual estágio da crise estrutural do capital. Já tinha sido objeto de análise de Eric Hobsbawm em “A falência da democracia” (Folha de S. Paulo, 09/09/2001).

Dois dias antes do ataque às Torres Gêmeas, em Nova Iorque, o historiador britânico antecipava que a nossa maneira de estar no Mundo e os pilares que nos sustentavam haviam ruído. Os Estados tornaram-se instrumentos de controle social e a democracia a legitimação ideológica do sistema. Deste modo, a soberania de mercado, mais do que um complemento, tornou-se uma alternativa liberal para o “governo do povo”. Quem dita as regras da orientação política, na era da 4ª. Revolução Industrial e dos sistemas metaversos, é a globalização econômico-financeira.

Assim, enquanto os governos são constantemente inspecionados pelo público, em decorrência da inovação tecnológica, a capacidade da democracia em dirimir os estragos do apetite voraz do capital (por mais capital) é restringida. Isso torna deficiente o fornecimento de benefícios básicos para população.

Vale destacar que nas democracias liberais raramente os eleitos representam a maioria do eleitorado. Portanto, para os gestores da “coisa pública” é condição sine qua non desviar a atenção do processo decisório através de subterfúgios para amenizar a desconfiança dos cidadãos na política - ao mesmo tempo que asseguram sua participação nos espólios da crise. Esse é o ambiente perfeito para o populismo. As diferenças ideológicas são substituídas por crenças que reforçam a aceitação acrítica do presente histórico.

Se no caso brasileiro essa melancolia política é amparada pelo som de granadas, fuzis e adornada por todo tipo de violências, misoginias, racismos, LGBTQia+fobias ... pintou um clima. Para superar a crítica das armas, a arma da crítica deve ser materializada em uma teoria que possa dissipar o torpor em relação à verdade que realmente interessa: o Estado e a democracia, já dizia Robert Kurz, são apenas a outra face da valorização do capital e do mercado.

Afinal, no país que prevalece a ladainha do “eu, somente eu”, o exercício da política e ação libertária estão em contínua agonia. Sem êxtase. Afortunadamente, “a vida não é a aceitação passiva de mecanismos do mundo. Esquecemos que somos nós que temos que mudar” (Leo Lama, 2022).


 
 
pessoas
Antonio Carlos Silva



 
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