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21-07-2022        Diário de Coimbra

O ambiente que o Ocidente e Rússia, estão a viver, está a ser marcado por extrema emoção e é preciso que haja muita racionalidade para gerir esta crise. Quais são os cenários possíveis? O cenário que decorre, não é bom. Mas, outros cenários podem vir a ser piores. Se por ventura, Putin, não conseguir a progressão no terreno que ambiciona, pode ser tentado a uma escalada militar. Escalada militar significaria usar armas de maior letalidade. Onde está o limite?

O limite encontra-se nas armas químicas e biológicas, e nas armas nucleares táticas. As primeiras, são de difícil controle, disseminando-se rapidamente e as fronteiras da Polónia e da Roménia estão geograficamente muito próximas. Este cenário seria o escalar e o confronto direto com o Ocidente que na minha opinião, não interessa, porque perderíamos todos. A outra solução é a solução da rutura interna da Rússia, o que pode ser possível. No entanto, é uma solução que precisa de muito tempo. No fundo, o que os Europeus estão a encetar, é a renovar a estratégia de contenção do tempo de George Kennan (1947). Isto é, tornar a cercar a Rússia do ponto de vista político, asfixia-la do ponto de vista económico e esperar que as contradições internas da Rússia (que são muitas) façam cair o regime de Putin. Sustentar um esforço de guerra desta natureza, não é compatível com a fraqueza da economia russa.

As sanções vão provocar empobrecimento e a população vai sentir. A elite cleptocrática vai ver-se privada dos bens de luxo, como os iates e das contas bancárias chorudas no Ocidente. Tudo isto, pode abrir uma frente de rutura interna. O grande problema é que todo este processo, pode demorar anos ou décadas. Portanto, também não é uma saída que se vislumbre. Pode também acontecer que um erro de estratégia militar, não estar a sortir os efeitos pretendidos. No fundo, a ideia inicial era a de seguir um “blitz screen war” (blitzkrieg, lightning war), com o máximo de violência, no mínimo de tempo, sem muito estrago, fazendo cair o governo de Kiev e instaurar um governo fantoche que depois negociaria todas as condições favoráveis à Rússia. Toda esta estratégia falhou. O próprio ministro das relações externas da Rússia, Sergei Lavrov, já admitiu a possibilidade eventual de os dois presidentes se encontrarem. Isto significa que a Rússia já terá desistido da ideia de derrubar o presidente Zelensky. As baixas que a Rússia tem vindo a sofrer, a dificuldade que está a ter em sustentar economicamente o esforço de guerra e as contradições internas, podem, de fato, acelerar uma rutura interna.

No entanto, esperemos para ver. Porque do outro lado, a repressão interna é também muito violenta. Na minha opinião, Putin está a perder, e se houvesse racionalidade, ele teria interesse em negociar a paz. Estar disposto a negociar a paz, significaria que a Ucrânia teria que ceder em muita coisa. Já sabemos que a Ucrânia não vai aderir à NATO e pode-se discutir o seu estatuto de neutralidade. Mas, a Ucrânia, pode ou não entrar na UE? Provavelmente não, porque entrar na UE, significaria aderir à Política Comum de Segurança e Defesa (PCSD). Desmilitarização? E a que nível? Que tipo de armas podem os ucranianos ter e não ter? Apesar de todas estas questões, a Rússia também tem de ceder. O Donbass e a Crimeia não podem constituir o prémio de uma agressão. Putin, teria de encontrar uma racionalidade para parar. Estar disposto a ganhar com uma “mão”, e a perder com outra. Será que Putin, tem esse tipo de racionalidade? Não sabemos e é isso que nos deixa muito apreensivos.


 
 
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