Reencontrei há dias uma piada antifranquista, criada nos anos que se seguiram ao final da Guerra Civil de Espanha, que exprime uma espécie de humor trágico, mas ao mesmo tempo possuidor de uma forte carga de esperança, protagonizado pelos derrotados que acreditam ter a razão histórica do seu lado, por oposição aos que foram os vencedores de ocasião: «Perdemos as grandes batalhas, mas ficámos com as melhores canções». Esta imagem pode ser replicada sempre que abordamos as perspetivas da história que não consideram o caráter temporário de todos os equilíbrios políticos, entendendo, de uma forma completamente redutora e ingénua, o seu próprio presente como eterno.
É esta a interpretação da história dominante nos regimes mais autoritários, que se julgam capazes até de condicionar o futuro, moldando-o «para sempre», como acreditam aqueles que os dirigem. Hitler previa um «Reich de Mil Anos» e manteve-se no poder apenas uma dúzia, enquanto a Grande Alemanha imperial que ambicionava se via humilhada e dividida. Estaline promoveu uma lógica de engenharia social, fundada na arbitrariedade do Estado e na repressão com o objetivo de construir o «homem novo», que ruiu quase de imediato após a sua morte, em 1953.
Na verdade, no fio do tempo jamais existe um «para sempre», sendo todas as decisões, escolhas ou projetos determinados por uma inevitável transitoriedade. É este o sentido tomado pelo conhecimento histórico como «campo de batalha» de que fala Enzo Traverso: toda a interpretação do passado coloca em confronto verdades distintas, determinadas, em primeiro lugar, pelo facto de serem sempre momentâneas e relativas, o mesmo acontecendo às realidades a que se referem. Aquilo que a dado momento parece definitivo, correspondendo à ordem natural das coisas, logo revela o seu lado episódico, caindo a prazo por terra.
Isto não significa que o sentido do mundo e do tempo obedeça à lógica do absurdo, pois se assim fosse nada mereceria verdadeiramente o esforço humano, pois logo de seguida cairia e seria esquecido. Nada disso. A democracia, por exemplo, pode passar por derrotas e tormentas, mas sempre renasce, independentemente das diferentes formas que toma, como expressão maior da liberdade individual e do equilíbrio coletivo, dando corpo ao que de melhor tem o ser humano como animal social. Afinal, tudo é transitório e sob muitos aspetos imprevisível.
É por isso que a vertigem da arbitrariedade em que, nos Estados Unidos da América, se transformou a presidência republicana de Donald Trump, configura, a curto ou a médio prazo, o seu próprio fim. Fora do círculo estreito de incondicionais e de uma certa base eleitoral interna, é tal o modo visceralmente negativo como é vista em todo o lado – basta repararmos nos recorrentes títulos da imprensa mundial –, que o seu errático, desafiador e incomodativo estilo de governação se está a transformar numa espécie de exemplo escolar do que não deverá ser a diplomacia das nações e a arte de governar. Resta por conhecer, todavia, a dimensão dos danos que ainda causará antes de ruir