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28-02-2007        Diário Económico
 A crise do mercado da publicação é global. O mercado da publicação científica está também perante novos desafios.

Com a identificação pela revista Time de todos os utilizadores da Internet como pessoas do ano, consolidou-se a noção da 2ª geração da Internet, a Web 2.0. A crescente convergência de tecnologias em paralelo com abertura dos processos de inovação a múltiplos actores estão na base desta mudança, de que o Open Source Software, a Wikipedia, o YouTube ou mesmo os ‘blogues’ são principais símbolos.

É neste contexto de uma nova geração da "sociedade da informação" que os anteriores meios privilegiados de publicação procuram novos rumos. As mudanças são frequentes. Questiona-se se a imprensa escrita está em vias de desaparecer, e jornais e revistas ensaiam, com grande incerteza, novos rumos. Entre rearranjos gráficos, forte instabilidade das equipas editoriais, novos modelos de negócio e inúmeros textos de opinião sobre o futuro da imprensa, as dúvidas são claramente maiores do que as certezas. O que se procura é a segunda geração da imprensa escrita, o Jornal 2.0. Ainda que com uma crescente convergência entre versões papel e ‘online’, a actualidade e a democratização deste processo de criação, forte marca desta segunda geração da Internet, continua a estar fortemente limitada pelo meio de distribuição do principal produto, o papel, relativamente imutável.

Mas a crise do mercado da publicação é global e não se limita à imprensa. O mercado da publicação científica está também perante novos desafios. Os determinantes deste mercado são no entanto significativamente diferentes. Tendo como pressuposto de funcionamento um processo de auto-regulação da comunidade científica, o mercado da publicação científica é na verdade fortemente dominado pelas editoras, multinacionais ou grandes sociedades científicas.

A correspondência privada entre os "colégios invisíveis"de cientistas foi o prólogo da comunicação científica. Pouco público, este processo de comunicação foi rapidamente substituído pelo modelo central de publicação, baseado na revista científica, que dissemina conhecimentos após o processo de revisão pelos seus pares, garantindo assim uma certificação da qualidade. Iniciado já no séc. XVII, o futuro deste modelo está agora em dúvida.

As novas tecnologias colocam em causa muitos dos seus pressupostos. Também aqui a velocidade de publicação, facilidade de acesso e perenidade, relação directa entre autor e leitor/utilizador face ao papel dos intermediadores (revista, editora, distribuidora), padrões de qualidade, e a crescente dimensão internacional do mercado, com consequente concentração, são questões centrais às mudanças em curso.

Neste contexto, a Comissão Europeia encomendou um "Estudo sobre a evolução económica e técnica dos mercados de publicação científica na Europa", cujos resultados foram objecto de consulta pública, e deram origem a uma comunicação da Comissão recentemente adoptada.

Tendo como pano de fundo as condições de acesso ao conhecimento, precisamente o que a "sociedade do conhecimento" promete oferecer, são formuladas diversas recomendações. As incertezas são igualmente consideráveis, mas os rumos diversos. Face ao crescente controlo do mercado pelas grandes editoras, emergem novos modelos de publicação, dinamizados pela comunidade científica, através de revistas de acesso livre (com os custos suportados pelos autores e não pelos utilizadores) ou de repositórios institucionais. Sugere-se uma maior diferenciação de produtos e consumidores (com custos atribuídos ao leitor). Valorizam-se complementaridades institucionais (estratégias de direitos de autor, acesso prolongado, funcionalidades ‘online’, etc.). Se o modelo vigente era determinado pela auto-regulação, procuram-se agora novas formas de regulação, incluindo em matéria de concorrência. Na verdade, o que está em causa é a qualidade e a credibilidade do conhecimento produzido e que será por muitos invocado nas mais diversas instâncias. Por isso mesmo, porque "conhecimento é poder", esta não é apenas uma questão de mercado, mas sim de acesso e de regulação.
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Tiago Santos Pereira