2017 foi um ano zero no debate público sobre racismo em Portugal: proliferaram as vozes que denunciaram o racismo no quotidiano, nas estruturas de oportunidade e na construção de conhecimento levando ao fim do estado de negação. A ex-secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade Catarina Marcelino anunciou o início do processo de monitorização das desigualdades étnico-raciais, respondendo à pressão de colectivos que há muito lutam contra o racismo, entendido enquanto uma relação de poder constituída historicamente e institucionalizada nas sociedades contemporâneas. 2018 é, portanto, o ano de todas as esperanças em Portugal.
As questões prioritárias estão bem identificadas: 1) o fim da violência policial, que tem afectado desproporcionalmente as populações racializadas, sobretudo os jovens negros; 2) a violação do direito constitucional a habitação condigna e o fim dos despejos forçados, que afectam incomparavelmente as populações ciganas e negras; 3) a participação e representação política das populações racializadas, tanto portuguesas como imigrantes; 4) a atribuição de nacionalidade portuguesa a quem nasce em território nacional e aqui projecta a sua vida; 5) o direito a uma educação pública de qualidade para todos, sem segregações formais ou administrativas, nem currículos alternativos de fim de linha; 6) e, sim, é preciso tocar na história, o maior reduto das forças conservadoras do país.
Se 2018 for capaz de inscrever na nação as populações negras, ciganas ou muçulmanas com dignidade e complexidade, ficará para a história