Centro de Estudos Sociais
sala de imprensa do CES
RSS Canal CES
twitter CES
facebook CES
youtube CES
28-08-2016        Jornal de Notícias

Agosto aproxima-se do fim. Ressurge o debate político, com os partidos apresentando as suas análises e propostas. As primeiras intervenções são, em regra, muito generalistas, mas fornecem indicações quanto aos rumos delineados e às consequências que cada força assume relativamente às opções tomadas desde o outono passado. Se quisermos fazer uma análise política prospetiva, minimamente sustentada, importará dar uma redobrada atenção ao balanço sobre o passado recente que cada força vai expondo, pois temos um novo Governo – com uma base de apoio inédita – e um novo Presidente da República, com um estilo de intervenção bem diferente do anterior.

Vivemos o verão com uma certa euforia propiciada pela vitória no europeu de futebol. Diz-se que  a Esperança dos portugueses num futuro melhor terá aumentado. Esse fator terá significado se assentar numa base realista das nossas capacidades e debilidades e não na ilusão de um qualquer sebastianismo salvador.

Atrevo-me a adiantar três ideias sobre o cenário político. Primeira, se o país continuasse a ser governado por Passos, Portas, Maria Luís e C.ª os portugueses já teriam sofrido mais umas doses de "austeridade virtuosa" e estariam cada vez mais submetidos ao retrógrado destino de povo "pobrezinho, mas honesto". A Direita portuguesa não tem projeto de desenvolvimento para o país, nem sequer um mínimo de disponibilidade para travar desafios. A inconsistência e o vazio das suas propostas só não surgem mais gritantes porque os grandes meios de comunicação social, no fundamental, seguem o centrão de interesses e a agenda neoliberal. Replicando o passado recente, a aposta da Direita resume-se à espera do desastre (que parece não chegar) como oportunidade para reaplicar a sua “doutrina de choque”. A disputa democrática no campo das ideias e dos programas políticos parece não interessar a estes partidos.

Segunda, a atual solução governativa é útil para o país e positiva para a maioria dos portugueses. Foram dados ou estão em marcha pequenos passos de justiça e dignidade, desde logo nas áreas do trabalho, do ensino e formação, da proteção social e da justiça, entre outros. Esta solução governativa tem mostrado que há sempre alternativa. Parte desta nova forma de ação política traduz-se hoje numa presença e intervenção no plano europeu, que se distanciou, embora por vezes com tibieza, da submissão vergonhosa aos poderes dominantes do neoliberalismo europeu e internacional.

Terceira, o Governo, apesar do percurso positivo, não se apresenta como um bloco determinado e coerente – na ação própria e na sintonia com o seu importante apoio parlamentar – na construção de um novo projeto. Tem corporizado algumas fragilidades desnecessárias e contradições inaceitáveis, como no caso da Caixa Geral de Depósitos onde, por certo, o BCE não é um parceiro fiável para a resolução do problema. A elaboração, aprovação e execução do próximo Orçamento do Estado constituirão um exercício muito duro face às pressões e manipulações da União Europeia, à "necessidade" de corte na despesa em algumas áreas e aos efeitos limitadores do frágil crescimento da economia portuguesa. Tarda uma melhor articulação de respostas conjunturais com a abordagem de grandes questões estratégicas, só atingível com debate e cooperação reforçados entre as forças que sustentam o Governo.

Os portugueses precisam que o Governo supere as suas debilidades. Com propostas de impacto e sensibilidade coletiva e popular, politica e tecnicamente viáveis, a mobilização da sociedade fortalecer-se-á. Há setores da academia e intelectuais que podem e devem contribuir mais para a resolução dos desafios que enfrentamos. A criação de emprego tem de ser conseguida com crescimento económico, mas também sem ele, e isso é possível tratando a economia e o social em todas as suas extensões. As batalhas a travar em áreas como a educação/ensino, a segurança social, a saúde ou a justiça carecem de uma forte intervenção dos seus profissionais, com as suas propostas, dinâmicas reivindicativas e diálogo com a sociedade. No passado, eles foram insubstituíveis para o avanço do país e também agora são indispensáveis.


 
 
pessoas
Manuel Carvalho da Silva



 
temas