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11-10-2015        Jornal de Notícias

Os resultados das eleições legislativas criaram um quadro político bem diferente daquele que o país viveu nos últimos 4 anos e meio. A coligação de direita, formada por PSD e CDS, teve uma grande derrota. Neste novo quadro a direita não pode governar sozinha. Precisa de apoios para aprovar o seu programa de governo e o Orçamento do Estado, pode até nem sequer formar governo, ou vir a cair e surgir um governo de efetiva alternativa.

É um facto inquestionável que, há poucos meses atrás, existia na sociedade portuguesa a perspetiva de esta coligação de direita no governo ter uma derrota ainda maior. Havia também um certo consenso (nos media) quanto à possibilidade de o PS ser a força política mais votada.

Inúmeros fatores se podem enunciar como explicação para as escolhas feitas pelos portugueses, nomeadamente: i) o PS enredou-se em contradições, com um programa eleitoral marcadamente técnico (com notas de influência neoliberal) quando o combate era político. Daí resultou um debate eleitoral em que no centro da discussão esteve muito mais o programa do PS do que o balanço dos 4 anos e meio de governação da direita e das propostas que esta tinha ou não para o futuro. Dirigentes do PS chegaram a acreditar que o PS podia resolver o problema apresentando-se como o saco do voto útil, esquecendo que a social-democracia que representa está sem programa capaz de gerar alternativas e que muitos cidadãos, apesar de gostarem da Europa como projeto comum, começam a apostar em propostas que contestem as regras europeias; ii) a emigração de centenas de milhares de portugueses levou para fora do país muitos jovens, cuja ausência enfraqueceu bases e capacidades de mobilização à esquerda; iii) parte do descontentamento das pessoas – que andam a fugir da vida porque esta é muito dura – refugiou-se na abstenção perante a inexistência de alternativas que interpretem os seus dramas; iv) as intervenções do Presidente da República (PR), sempre numa perspetiva de subjugação do país aos poderes dominantes na União Europeia (UE) e/ou mercados, bem como o seu combate a alternativas tiveram, ao longo dos anos, um efeito desmobilizador nos portugueses e de favorecimento da direita; v) a ideia de que no espaço da UE e da zona euro será muito difícil fazer vingar políticas alternativas foi reforçada com o processo político grego e com os pronunciamentos de tecnocratas da UE. Sem dúvida que isto intimidou e estes medos não serão ultrapassados sem que à esquerda se desenvolvam respostas mais sólidas, o que ainda não aconteceu neste processo eleitoral.

O PS, que não atingiu os seus objetivos eleitorais, surge “entalado” e obrigado a gerir cenários complexos, mas está no centro de todo o processo político e, à partida, tem condições para fazer melhor do que tem feito.

As forças à esquerda do PS reforçaram-se e avançaram com posições políticas novas no sentido de trabalhar compromissos com o PS com vista a uma “maioria de esquerda” para viabilizar um governo. Estes novos dados vão influenciar relações de forças – estão já a desencadear novas confluências, mas também contradições nos tradicionais posicionamentos à esquerda – e ter impactos em todo o quadro político-partidário existente e no futuro político do país.

Ao contrário do que pregaram certos políticos europeus, os portugueses não sancionaram as políticas de austeridade. Trata-se de uma grande mentira. É bom lembrar que a direita proclamou durante toda a campanha eleitoral que “a crise e a austeridade” eram passado. Conquistaram votos a partir do convencimento de que agora vai haver recuperação de direitos e de condições de desenvolvimento. A sociedade portuguesa mobilizar-se-á para exigir essa recuperação, seja qual for o futuro governo. Ninguém ignora o excesso de cor-de-rosa com que a direita tentou pintar a realidade do país, que são grandes os problemas económicos e políticos no contexto europeu e internacional, mas, acima de tudo, só cabeças loucas podem apresentar as políticas austeritárias como solução para um futuro melhor.

Com otimismo moderado direi: abriram-se janelas de esperança.


 
 
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Manuel Carvalho da Silva



 
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