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06-09-2015        Jornal de Notícias

As avalanches de sofrimento humano, que nos chegam a toda a hora através de imagens, de notícias e informações relativas aos dramas vividos pelos refugiados que buscam sobrevivência em países europeus, entre os quais as selvajarias e a irracionalidade da guerra de que fogem, despertam-nos preocupações e sentimentos solidários, mas também medos que tendem a paralisar a análise objetiva e a ação necessária para assegurar plena participação cívica e política.

Em Portugal, como noutros países europeus, são ainda significativos os posicionamentos xenófobos e reacionários perante estes dramas mas, felizmente, a esmagadora maioria manifesta indignação. Isto é muito importante. Contudo, impõe-se um olhar atento sobre as expressões dessa indignação, pois não falta quem a expresse a partir de pressupostos de uma pretensa superioridade moral e não por e para afirmação de genuína disponibilidade para encetar ação e sacrifícios concretos a favor dos inocentes e da generalidade das vítimas do terror.

Esse terror que mata, que inviabiliza vida digna ou meras condições de sobrevivência nos países de origem onde viviam estas pessoas, não é obra do acaso. Por exemplo, a invasão do Iraque, em que a UE participou apesar do protesto dos seus povos, constituiu, sem dúvida, a expressão limite de uma intervenção injustificada, desumana e com dimensões arrogantemente bárbaras. Ela foi o grande rastilho (incontrolável) para focos de instabilização e de ódios, de repressões, de saque, de guerras fratricidas, de instalação da anarquia e da lei da selva em múltiplos espaços territoriais. A este propósito observe-se que os Estados Unidos da América continuam muito distantes das respostas que é preciso encontrar para os refugiados, quando foram e são os primeiros responsáveis por alguns dos principais acontecimentos que generalizaram instabilidades e guerras nas regiões de onde vêm agora centenas de milhares de refugiados.

Há que não desistir, nem da exigência de políticas solidárias, nem de uma intervenção concreta de cada um de nós na construção de solidariedade sincera e ativa. Em simultâneo é preciso pôr a nu e denunciar as políticas belicistas e desumanas que os poderes dominantes nos impõem em conjugação com a cartilha económica e social do neoliberalismo. Os europeus têm de procurar e interpretar novas variáveis que emergem à escala global e nos obrigam a reformular quadros de relacionamento económico, cultural e político.

Nestes tempos que estamos vivendo, também nos sentimos atrofiados por outras situações, tais como os comportamentos aparentemente loucos do sistema financeiro à escala global, ou os charlatanismos instalados no discurso eleitoral, em particular da coligação de direita (PSD/CDS).

Enquanto se discute se há ou não sinais de crescimento em Portugal – esquecem-se de discutir a distribuição da riqueza –, é preciso não perder de vista vários factos irrefutáveis. Comparando a situação que hoje vivemos, com a que tínhamos em 2011 (e ainda mais com a de 2007), somos hoje um país mais pobre; com uma população menor e mais idosa; com dívidas muito maiores apesar da quebra dos salários, das pensões e dos direitos sociais fundamentais. Mas Passos, Portas e seus acólitos dizem que está tudo melhor. Por outro lado, o nosso acesso a juros baixos está preso por arames. Depende de acontecimentos como o rebentamento de bolhas especulativas na China e noutros países, ou de decisões dos bancos centrais no sentido da expansão do crédito ou da sua contração. Provavelmente, juros baixos só existirão durante mais algum tempo. Depois as taxas vão subir: até onde, ninguém sabe dizer. Nesse momento a realidade que está disfarçada sob o manto da propaganda dos juros baixos e do petróleo barato virá ao de cima. Nesse momento as promessas eleitorais serão testadas, mas as eleições já terão passado.

Por muito que apeteça mandar tudo isto às malvas, não pode ser. É preciso não desistir e agir em tempo útil. A direita tem de ser derrotada em 4 de outubro. Os seus objetivos e propostas, conhecidos ou escondidos, exaurem o país e atrofiam-nos o futuro.


 
 
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Manuel Carvalho da Silva



 
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