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12-04-2014        Jornal de Notícias

Aproxima-se o "fim" do programa da troika e as eleições para o Parlamento Europeu - importantes pelo que representam diretamente e mais ainda pela influência que podem ter na situação política nacional - e ampliam-se todos os dias as campanhas da mentira e da manipulação das consciências.

Os governantes, seus mandantes e serventuários torturam os números, fogem da análise das condições concretas da vida das pessoas, refugiando-se na tese de que os efeitos positivos "demoram a chegar ao bolso das pessoas". Já participei em debates televisivos em que alguns interlocutores defenderam assanhadamente perante as câmaras a inevitabilidade das políticas seguidas. Na sala de "desmaquilhagem", distantes das câmaras, afirmaram com todo o à-vontade que, sim, daqui a dois ou três anos vamos ter de fazer a reestruturação.

O que significa isto? Que os credores nos vão sacar mais uns milhões de euros, ao mesmo tempo que tentarão consolidar a agenda política e social neoliberal em Portugal e noutros países.

Nunca a palavra "limpa" foi usada com tanta sujidade como neste processo de mudança da presença da troika em Portugal. Todos os dias surgem novos "sinais positivos". Neste laboratório das "expectativas positivas" participa o presidente da República (PR), o Governo, o Fundo Monetário Internacional, o Banco Central Europeu, a União Europeia. "Os mercados", se for necessário até colocam as suas agências a melhorar a classificação do nosso país. Para todos eles o que é preciso é assegurar que os portugueses se convencem de que não há alternativas e se submetem.

O 25 de Abril fez-se para tirar o país do atraso, da escuridão, da repressão, para libertar os portugueses de uma guerra profundamente injusta que ia esgotando a sociedade, para impulsionar a justa independência de outros povos. Até à última hora, o regime fascista não se cansava de dizer que Salazar nos tinha posto as contas certinhas, que tínhamos significativas reservas de ouro, que a pobreza nos honrava e orgulhava, que o rumo tinha de ser aquele e "não podia ser outro".

Com as devidas distâncias, interroguemo-nos sobre o que é mais "patético": os discursos do corta fitas Américo Tomás ou, por exemplo, a tentativa do PR apresentar uma mensagem de futuro ao país com a sua deslocação à Aldeia da Esperança, que está hoje no mapa da publicidade porque um dos bancos do regime que nos colocou em dificuldades, o BES, se está a promover lavando a cara a algumas aldeias?

O primeiro-ministro (PM) que tanto vociferou contra o aumento do salário mínimo nacional (SMN), muda de agulha, oportunisticamente. O aumento do SMN é necessário e é possível, mas é claro que o PM quer, a troco de um pequeníssimo aumento, impor mais desregulamentação e precariedade, mais exploração de todos os que trabalham, engordando ainda mais os acionistas dos grandes grupos.

As políticas que nos vêm sendo impostas têm amplos impactos e/ou significados característicos de uma guerra. A maioria dos portugueses vivem carregados de tédio perante um futuro incerto e prenhe de constrangimentos, são cidadãos solitários e aflitos, condenados à sobrevivência, ao desenrasca, com exigências em crescendo e recursos a minguar. Esta guerra dissimulada ataca as pessoas nos seus direitos fundamentais, suga para a emigração centenas de milhares de jovens, desestrutura as famílias e as relações intergeracionais, isola vilas e aldeias porque centraliza serviços para assim enriquecer mais os grandes capitalistas. Esta guerra traiçoeira entrega a nossa soberania aos mercados, mata a liberdade e a democracia.

Não nos deixemos tolher nos obstáculos, lembremo-nos, como na "Liberdade" de Sérgio Godinho, que esperar, adiar a decisão de agir, "torna tudo mais urgente", que "a sede de uma espera só se estanca na torrente", que "só há liberdade a sério quando houver paz, pão, habitação, saúde, educação", e que "só há liberdade a sério quando houver liberdade de mudar e decidir".

No percurso destes 40 anos pós-25 de Abril fomos capazes de formar as torrentes que impulsionaram a conquista desses superiores objetivos.

Podemos sempre mudar e decidir e seremos capazes de o fazer!


 
 
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Manuel Carvalho da Silva



 
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