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25-01-2014        Jornal de Notícias

Esta é a trilogia completa que quem nos governa pretende atingir com o processo de entroicamento a que sujeitaram os portugueses.

Pela mão de políticos nacionais e estrangeiros de baixa intensidade democrática e de operacionais do saque que atuam de forma “legal”, fomos e continuaremos a ser martirizados até que coletivamente confessemos os crimes que não cometemos.

Agora o tempo é o da invenção de um cenário de ilusões, em que governantes internos e externos, de megafone em punho, tentam, com mentiras e cinismo, fazer a demonstração “científica” da justeza dos sacrifícios impostos e do êxito da sua aplicação. O exercício passa por convencer o povo de que não havia alternativa à expiação dos seus excessos e delitos, por baralha-lo com uns quantos resultados estatísticos manipulados. A partir dessas duas patranhas fazem-nos discursos de esperança e futuro.

Só que esse futuro será servido em forma de aprisionamento a uma indecorosa distribuição da riqueza, a enormes desigualdades e injustiças, a ruturas entre gerações e estratos sociais, a trabalho mal pago e sem dignidade. O sonho destes governantes sem ética e sem princípios é submeter o povo por tempo indeterminado.

Apesar da monumental campanha de intoxicação que só fala de êxitos, basta estar atento aos discursos de alguns governantes para percebermos que o brutal roubo organizado prosseguirá. Passos Coelho e Maria Luís, o “ratão” Barroso e seus comissários, alguns senhores do grande poder financeiro e seus servidores avisam que “apesar do êxito que se está a alcançar”, temos de estar preparados para “continuar os sacrifícios”.

Da tão apregoada melhoria da economia já chegou algum cêntimo ao bolso do povo? Não! Nem migalhas lá chegarão tão cedo. Mas há ricos que engordam quando os indicadores globais ”mostram” crescimento.

A Oxfam denunciou esta semana esse crime ignóbil de 85 indivíduos terem tanta riqueza como a metade mais pobre da população mundial. O Papa Francisco, na mensagem enviada para Davos, denuncia as desigualdades e afirma que a sua diminuição “exige algo mais que crescimento económico”, acrescentando que é preciso “decisões, mecanismos e processos dirigidos a uma melhor distribuição da riqueza, criação de fontes de emprego e uma proteção dos mais pobres que vá além de uma mentalidade caritativa”.

É mais que tempo de mandar bugiar os governantes que só nos falam de crescimento económico (ainda por cima ténue e incerto) e de caridade. Que propagandeiam milagres das rosas enquanto nos colocam coroas de espinhos, como fazem aos investigadores, à juventude, aos reformados, ao comum dos cidadãos que trabalham ou já trabalharam.

É anunciado um extraordinário êxito na execução orçamental de 2013. Mas o que vemos quando se analisam os factos? Que os portugueses foram sacrificados com uma duríssima carga fiscal que lhes reduziu o rendimento disponível e que o designado regime de regularização de dívidas fiscais e da segurança social rendeu ao Estado 1,3 mil milhões de euros (0,8% do PIB). Significa isto, desde logo, que se não tivesse havido perdão fiscal, mesmo com o enorme sacrifício do comum dos portugueses, que pagou muito mais IRS, não se tinha equilibrado a execução orçamental.

Este “êxito” do governo exige que se coloque também em evidência outros aspetos: i) não é possível fazer operações de perdão fiscal todos os anos; ii) a recuperação pelo governo de 1,3 mil milhões de euros é apenas a ponta do icebergue do imenso não cumprimento das obrigações fiscais por parte de quem tem riqueza, e dá-nos uma pequena ideia dos enormes roubos ao longo dos anos; iii) os indicadores globais do “êxito” só significam que alguns continuam a apoderar-se do que é de todos; iv) o aumento da carga fiscal, a redução das pensões, o desemprego e o trabalho mal remunerado impedem as pessoas e as famílias de terem segurança nos seus rendimentos, elemento indispensável ao cumprimento de compromissos e à organização da vida.

A incerteza gera enorme sofrimento e constrange o futuro. E o governo, com os seus “êxitos”, não faz mais do que regozijar-se de propagar a incerteza, gerando solidões e medos que submetem as pessoas.


 
 
pessoas
Manuel Carvalho da Silva



 
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