Colocaram-nos a andar para trás. Na escola e não só. É preciso diagnosticar destemidamente a confusão das políticas que o Governo PSD/CDS vai impondo. Essas políticas e o comportamento dos governantes mostram-nos uma gritante ausência de ética: no plano laboral e social; nas relações económicas e financeiras com que lidam; no plano cultural e político. Esta ausência extravasa o campo das funções governativas e atinge o nível privado e pessoal.
Em diversas áreas, desde a educação à Segurança Social, da saúde às relações de trabalho, as medidas implementadas e as que se perspetivam assentam em crenças manipuladas e na exploração de perigosos sentimentos nostálgicos. Ardilosamente estão induzidas na sociedade a ideia da inevitabilidade do empobrecimento, a perspetiva de que os direitos laborais e sociais têm de ser harmonizados no retrocesso e desaparecer, a conceção de que o desenvolvimento humano e a democratização da sociedade, construídos a partir da Revolução de Abril de 1974, significaram apenas uma ilusão passageira ou foram um excesso concedido ao povo.
É chocante a forma como se tenta convencer as pessoas de que o Governo propõe cortes no ensino, na saúde ou na Segurança Social em benefício dos cidadãos, quando cada um desses cortes constitui uma redução efetiva dos rendimentos das pessoas.
Aos erros estratégicos acumulados quanto às opções de desenvolvimento económico, aos monumentais roubos resultantes da promiscuidade entre interesses privados e públicos, à degradação da governação, veio juntar-se o desemprego em massa ou emprego de baixíssima qualidade para a juventude, levando o país a perder a geração que a Escola melhor preparou e de que mais necessita para sair da crise. Centenas de milhares de jovens, com qualificações reconhecidas, estão a ser forçados à emigração ou a não utilizarem devidamente as suas competências.
Numa sociedade moderna e democrática atacar as condições de pleno funcionamento da escola é, sem dúvida, negar o futuro. A nossa escola tem demonstrado competências muito para além das exigências do modelo de desenvolvimento que o país tem seguido e, hoje, esta escola, fundamentalmente pública, apesar dos défices que ainda tem, choca com o processo de retrocesso social, civilizacional e democrático em curso.
É a escola do retrocesso que está a ser rapidamente preparada. O Governo está a tomar opções conceptuais que nos remetem para as décadas de 30 e 40 do século passado. Existe uma imperiosa necessidade de intervenção de todos os democratas no sentido de travar este desastroso caminho.
A escola não tem condições para substituir o papel da família, os impactos demolidores das precariedades, a ausência de condições de articulação do trabalho com a vida familiar e jamais conseguirá resolver amplos problemas da crise da sociedade. O ministro e o Governo não podem continuar impunemente a mentir e a manipular argumentos.
Não se pode assistir, sem ação, à forma indecorosa e afrontosa como são tratados os professores, ao achincalhamento feito aos trabalhadores não docentes, à retirada de condições de apoio para formação curricular e para acompanhamento qualificado das nossas crianças e dos nossos jovens. O Governo está a produzir uma proliferação de fatores de instabilidade e de intranquilidade que destroem a escola.
É indigno negar duas ou três dezenas de milhões de euros para o normal funcionamento das universidades. Este valor não passa de "uns trocos" com que alguns malandros se abotoam em qualquer negócio swap ou processo de parceria.
Na área da educação, como em outras, o Governo não está apoiado em argumentos técnicos e científicos credíveis. O Governo está cada vez mais perigosamente dogmático. O seu "narcisismo cognitivo" é ancorado na agenda neoliberal e nas políticas retrógradas que campeiam na Europa e articula-se com uma ação feita sem hesitações, que secundariza os interesses do povo e do país.
A farsa acabará por se tornar evidente. A contínua invocação da crença de que este é o caminho a seguir mais não significa do que uma absoluta limitação para justificar, com verdade, aquilo que de facto pretende, e uma total ausência de certeza quanto a estas políticas nos propiciarem um futuro melhor.