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19-07-2013        Diário de Notícias

O Partido Socialista foi confrontado esta semana com a escolha entre duas formas antagónicas de entender o que deve ser a salvação nacional. Uma, a de Cavaco Silva, arranca da convicção de que esta política salvará o país e, para dar força a essa fé, amarra o PS à direita e deixa-o ganhar eleições daqui a alguns meses na condição de não mudar nada de essencial no rumo traçado pela troika para Portugal e até de o perpetuar ad eternum. Entendimento antagónico é o que resultou do convite que foi feito pelo Bloco de Esquerda a todas as forças de esquerda para uma discussão sem pré-condições sobre as opções fundamentais de um governo de esquerda para o país, agora. A sua convicção é a de que a tirania de uma dívida que não para de crescer destrói a democracia e o país e que é urgente uma maioria social e política que ponha fim a esta tragédia.

Vivemos, de facto, um momento histórico de bifurcação, em que, graças à radicalização imposta pela troika e pelo Governo, é clara a escolha que está diante do país. Este é um tempo de uma clareza inédita, em que cada força tem de escolher entre a aceitação de que não há política fora do campo delimitado pela troika e o juntar de todas as forças para romper esse colete de forças que nos rouba a democracia. Agora não há fingimentos nem encenações – ou se está sinceramente de um lado ou se está sinceramente do outro.  O sentido da iniciativa do Bloco de Esquerda foi sabidamente esse: não uma encenação para acumular capital de queixa nem um fingimento para cumprir calendário mas sim um desafio de resposta conjunta da esquerda à estratégia perigosíssima de tutela presidencial sobre a política portuguesa que lhe pretende confinar o espaço e diminuir a diversidade.

O leitor tem sobre mim a vantagem de, no momento em que ler estas linhas, já saber a que porto conduziram as negociações patrocinadas por Cavaco Silva e imploradas por Alexandre Relvas, Francisco Van Zeller ou Daniel Bessa. Mas a escolha do PS vale muito para lá do resultado do negócio. Qualquer que este seja, o PS decidiu privilegiar a negociação no campo da troika e desdenhar o diálogo à esquerda. Ou seja, em coerência com as juras de cumprimento de todos os compromissos internacionais feitas reiteradamente por Seguro, o PS escolheu assumir como referencial da política portuguesa em que se quer situar o memorando de entendimento com a troika afirmando aí as suas nuances. Que o Partido Socialista tenha rejeitado explorar qualquer caminho de convergência à esquerda, procurando ao invés que os partidos à sua esquerda embarcassem na manobra cavaquista (para que, aliás, não foram convidados) dando assim algum conforto político à decisão do Largo do Rato, é um muito mau indício. Pode bem vir depois a rábula do diálogo com todos e até mesmo da resistência aos falcões do regime – o certo é que não é disfarçável a diferença de empenhamento de Seguro entre o negócio com a troika de Cavaco e a possibilidade de compromissos à sua esquerda. Repito: seja qual for o saldo final das negociações entre PS, PSD e CDS, o Partido Socialista desperdiçou  uma oportunidade histórica de  dar um passo em direção à  convergência com a esquerda quando ele é mais necessário. Mas pior: a salvação nacional a que o PS escolheu dar preferência é um balão de oxigénio para este Governo morto e para a perpetuação desta política mórbida, com mais nuance ou menos nuance. O resto é entretenimento para incautos.  


 
 
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José Manuel Pureza



 
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