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05-07-2013        Diário de Notícias

Não é por haver crise política que haverá segundo resgate da troika. É por estar aí o segundo resgate da troika que a crise política está aí. O que falhou não foi o entendimento político entre as direitas coligadas. O que falhou - estrepitosamente - foram as políticas de empobrecimento encaradas como promessa de regeneração económica e social. Não tiveram outro resultado senão o empobrecimento sem mais. E a dívida, em nome de cuja diminuição tudo se fez e tudo se exigiu, não parou de subir. Foi isso - e não a defesa coerente da legalidade constitucional por quem cumpre fazê-lo num Estado de direito - que fez demitir o primeiro-ministro de facto Vítor Gaspar. Assim como o que fez demitir Paulo Portas foi a perspetiva do vendaval social que o corte de 4700 milhões de euros na despesa pública, de que é guionista investido, acarretará sem outros efeitos senão os da destruição da economia e da sociedade.

O Governo morreu porque a sua política o matou.

Virá agora o segundo resgate, há muito inevitável. Negando-o, o Governo antecipou-o sucessivamente atirando as responsabilidades para o Tribunal Constitucional, para os partidos da oposição ou para os sindicatos. A dança de demissões dos últimos dias mostra que nunca houve outra causa para o segundo resgate senão a política de teimosia irresponsável do Governo em matéria económica e social.

Por isso é que é tão irrelevante a troca de sms entre Passos e Portas sobre a substituição do ministro das Finanças e tão importantes os telefonemas e conversas pessoais dos administradores dos bancos portugueses com dirigentes da coligação governamental para os pressionar para que se abjure qualquer cenário de eleições. Aquela é do domínio do folhetim dos estados de alma, estes são exercício de política dura.

Esse jogo político palaciano e dissimulado tem como contraponto a incredulidade e a repulsa da grande maioria das pessoas. Se necessário fosse, os últimos dias mostraram que na governação ditada pela troika vale literalmente tudo desde que o resultado nunca seja a expressão democrática da vontade popular. Desde que se cumpram os desígnios de quem manda, todas as fórmulas de poder são boas. Neste regime de administração colonial, ao vice-rei exige-se não que represente o seu povo e que por ele seja reconhecido como legítimo governante, mas sim que represente o verdadeiro soberano e submeta o povo. Assim está a ser em Portugal, pela mão de gente formada na pior política pelas jotas. E o espetáculo desta política feita por jogadores da política sem outra vertebração ideológica senão a de agradar a quem manda está a degradar até ao limite o apoio popular à nossa democracia. Ora, se isto não é um funcionamento não regular das instituições democráticas, então eu não faço ideia do que isso possa ser.


 
 
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José Manuel Pureza