A classificação da UNESCO é uma boa notícia, no tempo certo, porque Coimbra precisa de algo drástico que a sacuda do desânimo que está instalado. Talvez este galardão possa ser esse momento. Mas para isso a classificação da UNESCO precisa de ser entendida como uma oportunidade para um recomeço e não propriamente como o fim da história.
Até porque o que está aqui a ser celebrado é o que gerações e gerações de gente de Coimbra fez ao longo do tempo e que agora se homenageia; e não propriamente o que estamos a fazer hoje, para lá do mérito óbvio de quem preparou e apoiou a candidatura.
Por outro lado, uma certa indiferença com que Portugal trata hoje Coimbra pode conhecer um virar de página. Se Coimbra entender que há ainda muitos capítulos por escrever. Que valem a pena ser vividos por todos, como sendo Portugal.
Os ganhos para o turismo, que são apontados como consequência primeira deste reconhecimento, têm de ser entendidos como um efeito secundário. Não podemos virar apenas um país do turismo depois de termos sido um país do mundo; o turismo para uma cidade universitária com a ambição de Coimbra é colateral e apenas animador.
Se for entendido como um recomeço talvez este prémio possa ser a viragem e a redefinição do estatuto de Coimbra no plano nacional e internacional, que muitos esperam e em que muitos já não acreditam.
Há um plano em vigor para a Alta, do arquitecto Gonçalo Byrne, cuja implementação será fundamental. Prevê a reutilização de edifícios com funções diversificadas; prevê parques de estacionamento subterrâneos que permitirão sair da ditadura do automóvel estacionado. Toda a Alta merece ser redescoberta e reinventada e não só com obras mas com imaginação e com rasgo.
A reabilitação da Rua da Sofia, na Baixa, também abrangida enquanto primeiro campus da universidade pode ser simbolicamente, e na prática, o fim do anacrónico divórcio entre a gestão da cidade e da universidade. Coimbra é só uma; e é para todos, a partir de hoje.