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02-05-2013        Visão

A morte de Margaret Thatcher serviu de motivo para revisitar e debater o slogan que a tornou famosa: TINA (there is no alternative), ou seja, não há alternativa ao capitalismo neoliberal. Muito se discutiu sobre o tema, tendo em vista que indicadores de bem-estar da Inglaterra têm hoje valores muito inferiores aos do tempo em que Thatcher chegou ao poder. A zona do euro vive hoje uma nova versão da TINA, as políticas de austeridade impostas pela Alemanha. O dano social que a nova ortodoxia pode causar na Europa é muito superior ao que causou na Inglaterra, porque temos uma moeda que, apesar de comum, é gerida apenas por um país, porque não temos um mar do Norte com petróleo e porque o patamar de bem-estar de que se parte é já baixo em alguns países, como é o caso de Portugal. Estaremos condenados a só questionar eficazmente a nova ortodoxia quando os jovens europeus assistirem ao funeral de Angela Merkel?

Para responder negativamente a esta pergunta são necessárias duas condições: identificar as alternativas e dispor de atores políticos capazes de lutar por elas. Na Europa, a reflexão séria sobre estas condições foi relegada para as margens da sociedade política, sejam elas os jovens indignados e as massas de desempregados decididos a lutar na rua para fugir ao abismo do suicídio, ou os grupos de ativistas e intelectuais foragidos da mediocridade partidária para poder pensar criticamente e agir de maneira condizente. Nessas margens reside a esperança. No próximo dia 11 Maio os foragidos da mediocridade partidária reúnem-se em Lisboa no colóquio "Vencer a Crise com o Estado Social e com a Democracia”. Refiro-me à iniciativa do Congresso Democrático das Alternativas. Os participantes sabem que enfrentam um enorme desafio: identificar, a partir das margens, alternativas que sejam menos marginais que eles próprios. Ou seja, criar uma contra-hegemonia credível entre os cidadãos e organizações sociais. Eis os desafios.

Primeiro, vencer a barreira da comunicação social, hoje dominada por interesses e comentadores que, no máximo, querem que tudo mude para que tudo fique na mesma. Segundo, explorar a ideia de que, na luta social, a renovação da esquerda pode vir dos que sabem que estão do lado da dignidade sem distinções marcadas pelos passados de esquerda e ou de direita. Terceiro, não abdicar de conceber a coesão social no único terreno em que ela não é a banha da cobra de discursos presidenciais: na diminuição das desigualdades sociais e na eliminação das discriminações sexuais, raciais, religiosas. Quarto, mostrar que a democracia precisa de ser democratizada sob pena de ser sequestrada por ditaduras avulsas, sejam elas capital financeiro, corrupção endémica, autarcas dinossáuricos, legisladores que legislam em causa própria pela magia de uma curta viagem entre a bancada parlamentar e o escritório de advocacia, donos de supermercados que ensinam educação cívica aos portugueses como se estes fossem mais uma promoção. Quinto, convencer sobretudo os jovens que a apatia social é tão anti-democrática quanto o terrorismo e que há mais ativismo para além do facebook e do twitter. Sexto, fazer as contas de modo a que fique claro que os portugueses nunca viveram acima das suas posses, exceto o 1% que fez fortunas em paraísos fiscais, nas parcerias público-privadas, nas fraudes bancárias, em comissões ilegais de obras públicas inecessárias, em prémios e honorários astronómicos de gestores treinados para dar lucros a patrões chineses, extorquindo os últimos cêntimos a consumidores empobrecidos também pela conta da eletricidade. Sétimo, dar voz à lição da história europeia de que o Estado Social não é um peso ou uma “gordura” mas um músculo imprescindível da coesão social, do desenvolvimento e da democracia. Oitavo, dar uma atenção especial às forças de segurança, mostrando-lhes que o outro lado da austeridade é o desprezo pelos cidadãos e a repressão do protesto social e que se devem ver ao espelho em cada vítima que fizerem. 

 


 
 
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Boaventura de Sousa Santos



 
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