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16-03-2013        Jornal de Notícias

Klaus Riegling é um homem poderoso. Atualmente é diretor executivo do Fundo de Estabilidade Financeira (FEEF) e do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), os fundos criados pela União Europeia (UE) para financiar Portugal, a Irlanda, a Grécia, a Espanha e outros países que venham a seguir. Antes de ter este cargo fez carreira no FMI, no Ministério das Finanças da Alemanha, e foi diretor-geral dos assuntos económicos da Comissão Europeia. Em intervalos destas funções públicas, trabalhou na Associação dos Bancos Alemães, no More Capital Strategy Group, foi consultor do KR Economics. Este senhor fez ao longo do seu percurso um verdadeiro corrupio entre o setor público e o setor privado, sempre ao serviço da finança.

Por ocasião de uma visita a Portugal no início da semana Klaus Riegling foi entrevistado pelo jornal Público. A entrevista, publicada no passado dia 11, é um documento revelador da visão que os homens poderosos, que atualmente mandam na Europa, têm de si e dos outros.

Notável nessa entrevista de Klaus é o facto de ele ser capaz de ver o que mais ninguém vê e recusar ver o que todos veem. Vê indicadores económicos “a evoluir no bom sentido”. Já ouviu falar de “consequências muito duras para a população”, mas encolhe os ombros e dispara os habituais é “inevitável” e “não há alternativa”.
Klaus não sabe explicar os resultados eleitorais na Itália. Foi um voto contra a austeridade? Como é possível, se não há alternativa à austeridade, sentencia de novo. Mas então se não há alternativa que sentido faz as pessoas votarem, pergunta a jornalista impacientada, muito a propósito. Klaus parece concordar. Na realidade não faz sentido nenhum: “Há alguns princípios económicos que podem ser violados durante algum tempo, mas não sempre. Um desses princípios é que dívidas excessivamente elevadas acabam por provocar sérios problemas económicos. Esse princípio não pode ser alterado através de nenhum resultado eleitoral. Além disso, há regras orçamentais europeias que foram adotadas por votação unânime …”. Que entendimento de democracia terá este indivíduo?

Cego de um poder que o torna arrogante, ignorando a solidariedade que a Europa teve para com o povo do seu país, mesmo depois de ter sido vítima de uma guerra brutal, Klaus não consegue enxergar o óbvio. Não consegue ver que as dívidas excessivamente elevadas, que o preocupam acima de tudo, tanto podem criar problemas aos devedores como aos credores. Cego na sua missão de cobrador não vê que o devedor depois de espremido pela austeridade não pagará um só cêntimo. Ele não vê também que as regras comunitárias, por mais juras de fidelidade de quem as subscreve, deixam de ser cumpridas a partir do momento em que perdem o sentido.

Klaus Rieglin não vê que a cegueira, a sua e a dos seus na UE, acabará por levar os povos em sofrimento a fazerem as escolhas que Klaus não autoriza. Os povos podem mobilizar-se e virem a obrigar os credores a sofrerem perdas por um sobre-endividamento privado e público de que os credores são, no mínimo, corresponsáveis, e podem impor a revogação de regras quando essas regras se transformam em declarações de capitulação e de traição aos direitos elementares.

Klaus ilustra bem aquilo em que se tornaram as instituições europeias, principalmente o Conselho, a Comissão e o Banco Central Europeu: órgãos executivos de um sistema financeiro intoxicado, irracional e perigosamente ainda muito poderoso.

Sob a direção destes órgãos, povoados por pessoas como Klaus, a UE mostrou ser capaz de arrasar um país – a Grécia – e de insistir no erro, arrasando outros de seguida. Não hesita em culpabilizar povos e sacrifica-los coletivamente, recusando-se a ver que o endividamento das periferias é, antes do mais, uma consequência direta das instituições deformadas que construiu.

Com mandantes deste cariz e serventuários como Gaspar e Passos, o futuro do nosso país está em causa. Não podemos amochar.


 


 
 
pessoas
Manuel Carvalho da Silva