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05-01-2013        Jornal de Notícias

Soltem-se as línguas na análise e denúncia da grave situação que os portugueses e o país vivem. Exercitem-se os neurónios na crítica sustentada e na construção de saídas. Amplie-se a ação para a derrota das atuais políticas e o afastamento do governo PSD/CDS.

Tem significado que o Presidente da República (PR) tenha soltado a língua o suficiente para dizer “temos urgentemente de por cobro a esta espiral recessiva, em que a redução drástica da procura leva ao encerramento de empresas e ao agravamento do desemprego”, ou “em 2012, ficou claro que um processo de redução do desequilíbrio das contas públicas acompanhado de um crescimento económico negativo tende a tornar-se socialmente insustentável”. Contudo, não pode deixar de causar estranheza que os seus neurónios só agora tenham funcionado.

Então senhor Presidente, não é exatamente isso que vinham dizendo, pelo menos desde o primeiro PEC, algumas vozes apodadas de radicais e insensatas? Não foi o senhor Presidente que “presidiu” ao compromisso do Memorando e que promulgou o Orçamento de Estado (OE) de 2012, convidando os portugueses a pacificamente se submeterem, sem recorrer ao Tribunal Constitucional, no caso do Orçamento?
Já é tempo de o Presidente dizer “desculpem, enganei-me”.

O que naquelas frases disse o PR é aquilo que quase todos na sociedade portuguesa já sabem: “é preciso por cobro”. Mas o Presidente que podia “por cobro”, não põe cobro. E outros que na sociedade portuguesa podiam ajudar a fazê-lo, pouco fazem.

O PR disse, também, que estamos perante “um círculo (ciclo) vicioso que temos de interromper” e que “precisamos de recuperar a confiança dos Portugueses”. Entretanto o seu discurso apresenta-se como um exercício de quadratura do círculo e muito pouco contribui para aqueles generosos objetivos. Expressa que jamais chegaremos a bom porto com as políticas em curso, promulga o OE para 2013 quando este apenas agravará os problemas, convida os portugueses à submissão ao insistir na manipulação de que questionar o Memorando significa querer “deixar de honrar os compromissos internacionais…”, acena com o papão da crise política.

O PR sabe, como qualquer cidadão minimamente informado, que em Democracia jamais se pode considerar um país em estabilidade e normalidade política, quando a sociedade vive uma profunda crise social, económica e cultural.
Em Democracia, quando a pobreza se generaliza, o desemprego atinge níveis insustentáveis, a economia se afunda, o valor da retribuição do trabalho cai aceleradamente e a sociedade é convidada a emigrar, quando o governo faz o oposto daquilo que prometeu, desrespeita o Estado de Direito, vende o país ao desbarato e perdeu a total noção do que é o interesse nacional e a soberania, está-se perante uma gravíssima crise política!

É preocupante vermos que enquanto o desnorte e o descrédito do governo crescem aceleradamente, se desenvolve todo um jogo manipulador em que figurões do poder político e económico e comentadores de serviço se movimentam para criar a ilusão de que a alternativa se resume à “voz dissonante” de Portas, ou a reparos da triste “originalidade” do processo impositivo da redução da compensação por despedimento, que há muito Passos, Gaspar, Portas e Cª delinearam. Despertemos face às jogadas em marcha, em diversas partes das áreas do centrão político, que perspetivam alternâncias tendo como pressuposto que agora o povo já está suficientemente anestesiado para aguentar por muito tempo duros sacrifícios. Seria dramático que se consolidassem estes movimentos de falsas alternativas.

Entretanto, perante a premência das respostas, parece haver à esquerda, em vários espaços, um certo enervamento individual e coletivo, que se acrescenta às complicadas dificuldades históricas de entendimento das forças políticas consolidadas. É possível e urgente ultrapassar estas situações.

Há que por cobro à política que temos. Existem suficientes denominadores comuns para que se afirme uma alternativa à esquerda. Só esta “união de esforços” pode constituir a base da recuperação da “confiança dos Portugueses”, da sua mobilização e responsabilização.

 


 
 
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Manuel Carvalho da Silva



 
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