As pessoas mais jovens têm vindo a enfrentar dificuldades cada vez maiores para reentrar no mercado de trabalho. Esta tendência, registada desde há vários anos, acentuou-se significativamente com a presente crise. O gráfico apresentado mostra bem que as pessoas na faixa etária dos 15 aos 24 anos sempre tiveram em Portugal muito mais dificuldade para encontrar um emprego, bem expressa no facto de a sua taxa de desemprego corresponder a mais do dobro da observada para o conjunto da população.
Neste gráfico, podemos ainda observar o modo como o desemprego tem vindo a afetar as mulheres e os homens, quer em geral, quer no grupo etário mais jovem. Nele está bem claro o incremento mais acentuado do desemprego entre os homens que, sendo em geral mais baixo do que o das mulheres, acabou por ultrapassar este em meados do corrente ano. Gostaria de sublinhar que isto mostra bem o quão errónea é uma ideia muito disseminada de que “em situações de crise, as mulheres são as primeiras a ser despedidas”. Esta “tese” toma o emprego masculino e o feminino como equivalentes, ignorando o fenómeno da segregação do mercado de trabalho, em função do sexo. Os homens estão a perder postos de trabalho mais rapidamente do que as mulheres porque eles constituem a mão-de-obra maioritária nos sectores que mais têm sido afetados pela perda de emprego – a construção civil e a indústria (nomeadamente a do ramo automóvel).
Estes indicadores também sugerem a conclusão de que as pessoas mais jovens constituem o grupo etário mais vulnerável e que mais oportunidades de emprego tem perdido desde o início da crise (2009). Neste caso, o incremento observado nas taxas de desemprego juvenil tem sido paralelo em ambos os sexos, mantendo-se a taxa de desemprego das jovens superior à dos seus pares do sexo oposto (38 por cento versus 36 por cento).
À questão de saber o que leva os/as jovens qualificados/as a emigrar parece, pois, fácil responder. Apesar de um diploma do ensino superior reduzir as probabilidades de ficar sem emprego (reduzindo bastante as taxas de desemprego dos seus titulares), acontece frequentemente que a posição que se alcança é caracterizada pela instabilidade e/ou pela fraca relação entre a formação académica obtida e os conteúdos funcionais do posto de trabalho ocupado. Esta descoincidência entre formação e trabalho pode ter uma orientação vertical, resultando do facto de os postos de trabalho ocupados não exigirem qualificações de nível superior (o que afeta cerca de 18 por cento de jovens no seu primeiro emprego, na União Europeia [UE]), ou horizontal, quando o emprego exige qualificações de nível superior mas em áreas diferentes das da formação inicial (15 por cento na UE). Em especial o primeiro dá origem ao fenómeno da sobre qualificação académica.
No nosso país, parece que nem o/s governo/s nem os privados dão muita importância aos níveis de formação académica, donde, as baixas qualificações também produzirem fracos efeitos de exclusão do mercado de trabalho (Portugal tem uma das mais elevadas taxas de emprego no grupo de pessoas com qualificações muito baixas). Outra característica do nosso mercado de trabalho é oferecer poucas oportunidades de progresso na carreira, especialmente nas suas fases iniciais. Por fim, o elevado retorno, que o mercado de trabalho costumava atribuir aos diplomas de educação de nível superior, está em queda desde os anos 90.
Não admira, pois, que a frustração sentida em face destes reveses na transição para a vida ativa – o desemprego ou um emprego precário, desqualificado e mal remunerado – leve as/os jovens a deslocar as suas esperanças para outros mercados de trabalho, onde o retorno dos diplomas é menor, mas o desencontro vertical entre formação e emprego poderá ser menor, pelo menos numa segunda fase de integração no país de acolhimento. O impacto deste “brain drain” será terrível para o país, desprovido de quem possuirá, em princípio, as qualidades necessárias à sustentabilidade e à inovação.