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19-05-2012        Jornal de Notícias

A revista Economia Pura (fev. 1999) publicou um artigo de Amartya Sen onde este enuncia várias penalizações do desemprego. É de enorme atualidade esse enunciado, pois as violências que recaem sobre os desempregados não diminuíram.

O Primeiro Ministro (PM) ao afirmar, "despedir-se ou ser despedido não tem de ser um estigma, tem de representar também uma oportunidade para mudar de vida, tem de representar uma livre escolha também, uma mobilidade da própria sociedade";, mostrou quão balofo é o seu conceito de modernidade e a conceção neoliberal que está inculcada no seu pensamento, demonstrou ausência de vida vivida e de dimensão cultural.

Perante os dados do desemprego relativos ao final do primeiro trimestre – 819 300 desempregados, mais de um milhão e 200 mil desempregados e subempregados, uma taxa de desemprego de 36,2% nos jovens até aos 25 anos – o PM não foi capaz de encarar o problema e dizer algo de sensato e responsável. A sua postura de "boa pessoa"; e "homem educado"; não o torna menos perigoso na condução do governo do país!

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) agendou para a Conferência Anual que se inicia no próximo dia 1 de junho, o tema "A crise do emprego jovem: tempo de agir";, porque este grave problema está a tomar "proporções sem precedentes"; em resultado da atual crise e da "crise antes da crise";, ou seja, da desregulação do mercado de trabalho, da precarização generalizada, da rutura de solidariedade entre gerações, e das políticas de austeridade e empobrecimento em curso.

No artigo atrás referido, Amartya Sen identifica dez (10) "penalizações de um desemprego maciço, para além do fraco rendimento";. São elas:

"Perda de produção e peso fiscal";, pois o desemprego não só desperdiça poder produtivo, como agrava os gastos do Estado. O desempregado é afetado nos seus rendimentos e afeta os rendimentos dos outros;

"Perda de liberdade e exclusão social";, porque o desempregado empobrece e a pobreza gera fortes perdas de liberdade. E, como diz Sen, "o desemprego pode ser a maior causa na predisposição das pessoas à exclusão social";;
"Perda de qualificações e danos de longo prazo";, em resultado de ausência de práticas de trabalho que rapidamente destrói competências, capacidades cognitivas e confiança;

"Danos psicológicos"; como consequência do sofrimento provocado pela diminuição dos rendimentos, da perda de respeito próprio e "da depressão associada a estar dependente e sentir-se rejeitado e improdutivo";;

"Saúde doente e mortalidade";, como se pode confirmar através da emergência de doenças graves e do aumento de suicídios. Adoece-se perante a dureza das dificuldades e a perda de esperança;

"Perda de motivação e trabalho futuro";, dado que o prolongamento na situação de desemprego gera enfraquecimento de motivação e desadaptação a novas situações de trabalho;

"Perda de relações humanas e vida familiar";, porque o desemprego gera um abaixamento acelerado do patamar de relações sociais, crises de identidade e privações muito sérias na vida pessoal e familiar;

"Desigualdade racial e de género";, como podemos observar pela consulta de dados estatísticos ou pelo ressurgir de propostas políticas xenófobas e racistas na Europa e em Portugal;

"Perda de valores sociais e responsabilidade";, em decorrência da privação material, da quebra da autoconfiança e de responsabilidade face a um sentimento de injustiça sentido perante uma sociedade que não oferece oportunidades para uma vida honesta;

"Inflexibilidade organizacional e conservantismo técnico";, pois o desemprego generalizado provoca ausência de perspetivas, maior resistência à mudança e um acentuar de velhas soluções (redução de salários, aumento dos horários de trabalho, desregulação laboral) inimigas da evolução, da inovação e da organização. Não há, assim, "empreendedorismo"; que vingue!

A OIT constata que aquilo que os jovens sentem – a oportunidade que lhes é oferecida pelas políticas de Passos Coelho e seus pares – é "marginalização e exclusão económica e social";.

O desemprego em grande escala é uma enorme ameaça à coesão social, tolhe o futuro, nega a liberdade, a democracia e o desenvolvimento.

 


 
 
pessoas
Manuel Carvalho da Silva



 
temas
desemprego    OIT