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28-04-2012        Jornal de Notícias

Nestes tempos de evocação do acontecimento político e social que mais positivamente marcou o desenvolvimento do nosso país no século XX, o 25 de Abril, e em vésperas do 1.º de Maio, que evoca a valorização e dignificação do trabalho como fator determinante do progresso das nações e do desenvolvimento humano, urge denunciar, de forma acutilante, o que está mal e agir para "mudar o rumo das coisas";.

As tarefas são exigentes e não se conseguirão, a curto prazo, as profundas mudanças que sabemos necessárias. Mas, há sinais de fragilidade e vazio que denunciam o fracasso das políticas seguidas e que devem ser colocadas em evidência. Em simultâneo, levantam-se vozes que ajudam, como diz A. Casimiro Ferreira, a que "as pessoas sintam o incómodo de se pensarem como pessoas com medo";, que contribuem para a criação da esperança.
Atolado em contradições, o FMI lá vai dizendo que a austeridade generalizada é um desastre. Mário Draghi, governador do Banco Central Europeu (BCE), veio afirmar que a União Europeia (UE) "precisa de um pacto de crescimento, além de um pacto orçamental";, acrescentando que a receita alemã não resolve a crise. Sabemos que Draghi quando fala de crescimento pensa receitar novos ataques aos direitos dos trabalhadores, mas não há dúvida que acaba de se reconhecer no meio do atoleiro.

O The Economist (25.04) considerou François Hollande "um homem perigoso ". Os interesses financeiros e especulativos, que alimentam a política parasitária inglesa e impulsionam o neoliberalismo na Europa, não têm medo do cidadão candidato à Presidência da França, mas assusta-os a hipótese de camadas do povo francês poderem mobilizar-se por novos rumos e contagiarem as atitudes de outros povos.

Romano Prodi afirmou (El País, 26.04) que é preciso um "golpe de leme na política europeia"; e que "a Itália deve trabalhar com a França e com a Espanha para relançar a Europa";, face à persistência da Alemanha em prosseguir (impor) a sua receita.

Por cá, tivemos um 25 de Abril com sinais diferentes e positivos. A Associação 25 de Abril – o país só tem a ganhar se os militares de Abril nunca abdicarem dos direitos e responsabilidades de cidadãos empenhados – deu ao povo sinais de incomodidade e fez denúncias (que não são exclusivas) muito importantes, independentemente das interpretações que à esquerda se expressaram sobre a relação entre as dinâmicas populares e o simbólico institucional.

Nas manifestações esteve muita gente. Pessoas de vários quadrantes manifestaram-se conscientes dos perigos que a sociedade portuguesa corre, mas dispostas a construir denominadores comuns para construir alternativas.
O Presidente da República (PR) fez mais um discurso do faz de conta, a "incentivar o valor português";. É caso para perguntar: o desemprego, os salários de miséria, a pobreza, as desigualdades, a falta de ética na governação podem "mostrar o valor do país no estrangeiro";?; como é possível discursar na Assembleia da República e não fazer uma referência à soberania nacional que aquele órgão tem secundarizado?; numa semana em que organismos internacionais vieram mostrar que o custo do trabalho em Portugal é menos de metade da zona euro (12,1 euros contra 27,6), é possível o PR não ter uma palavra de alerta para os objetivos falsos e cínicos que fundamentam a revisão da legislação do trabalho?

É imprescindível desencadear um forte ataque às convergências que sustentam as políticas de direita: a) um revanchismo que acha chegado o momento de acerto de contas com o 25 de Abril e com a democracia; b) um fundamentalismo dos números que procura submeter a democracia à economia – que tem adesão de "muito boa gente";; c) uma agenda política neoliberal, camuflada de liberalismo serôdio, que uma burguesia falhada foi incapaz de fazer vencer há mais de um século e que está convencida de ser agora a sua hora; d) uma submissão ignóbil aos determinismos neoliberais das políticas europeias e da globalização dominante, que põe em causa a soberania e o desenvolvimento.

Há que desenvolver novas linhas de rutura para clarificação da situação e mobilização dos portugueses.


 
 
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Manuel Carvalho da Silva