De forma significativa, o novo ciclo político começa com o Governo do PSD/Montenegro a concertar entendimentos com a extrema-direita. Os resultados eleitorais não o obrigavam a tomar esta via: fá-lo por escolha. Este não é mais um Governo da Direita, como já tivemos muitos ao longo dos 50 anos da democracia. Trata-se de um Governo com uma agenda regressiva nunca vista, a executar com a extrema-direita, num contexto europeu e mundial perigoso.
A alteração à Lei da Nacionalidade é uma escolha política deliberada, não resulta de uma necessidade objetiva. Como já foi observado por vários constitucionalistas, incluindo o professor Jorge Miranda, ela estará ferida de inconstitucionalidade em vários aspetos. Esta alteração, onde até o acesso à nacionalidade pode ser uma questão de se ser ou não rico, é uma bandeira da extrema-direita para semear o ódio.
Segundo a última edição do “Expresso”, “60% dos novos portugueses vivem fora do país”. Em 2023, os “israelitas concentram 40% das nacionalidades adquiridas”, ou seja, atribuídas. “A nova comunidade do subcontinente asiático, que inclui Bangladeche, Nepal, Índia e Paquistão, ainda é uma minoria estatística de 7%”. São apenas 2795 naquele ano. Os argumentos do Governo e da extrema-direita são, pois, escabrosos.
Estão em marcha políticas regressivas para a vida das pessoas e para o exercício das liberdades. Propagandeiam-se políticas fiscais amigas dos cidadãos, mas as medidas que o Governo avança para o IRS são globalmente regressivas. Com as políticas migratórias a alimentarem práticas de baixos salários, com a habitação entregue à especulação e o SNS colocado como área de negócio, jamais teremos melhoria de rendimentos e de condições de vida da maioria dos portugueses.Começa a ser desmantelado tudo o que possa ser obstáculo à apropriação indevida da riqueza, em particular atacam-se os direitos do trabalho, que são direitos humanos e estão plasmados na Constituição da República. Os patrões que mais recorrem ao trabalho precário, mal pago e sem direitos (veja-se posições da Confederação do Turismo), são os mais ansiosos pelas “profundas alterações” que o Governo pretenderá fazer, “desejavelmente na Concertação Social”. Ou seja, se não o conseguir ali, avançará via Assembleia da República com apoio da extrema-direita. O ataque (ideológico) à Lei da Greve visa reforçar instrumentos do Governo e dos patrões no quadro muito delicado que se vai viver. Nenhuma organização sindical pode condescender com tais objetivos. Mas, até agora, só a CGTP- IN foi clara.Em 1987 e 1988, perante uma ofensiva forte (a atual pode ser maior), o movimento sindical foi capaz de responder com eficácia. A CGTP entrou para a Concertação Social, fez-se diálogo entre a CGTP e a UGT e as duas realizaram uma extraordinária greve geral (28/3/88) que travou por muitos anos a ofensiva.
Boas experiências vividas no passado, podem ser inspiradoras no presente.