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28-06-2025        Jornal de Notícias

O somatório dos votos que o conjunto de forças políticas da Esquerda obteve nas últimas eleições legislativas não espelha toda a sua influência na sociedade. O sentimento de deceção, que levou centenas de milhares de cidadãos, até há pouco tempo seus eleitores, a abster-se ou a apoiarem forças da extrema-direita e da Direita com programas neoliberais, ainda poderá ser revertido.

É possível estancar a perda de influência social e encetar recuperação. A Esquerda é bem plural, mas dialoga pouco, e pesa bastante a parte que opta pela cedência à Direita, fazendo de conta que existiria democracia sem uma Esquerda forte. Acrescem os engulhos do contexto europeu e internacional onde imperam compromissos belicistas que subjugam a economia e matam o social.

As dificuldades não podem pear-nos. É necessário que a Esquerda interprete a nova era em que estamos. Ela não emergiu agora. Na última década do século passado era claro que as instituições e poderes que nos trouxeram até aqui estavam esgotados (o velho equilíbrio geopolítico e geoestratégico tinha-se estilhaçado) e que os novos poderes fátuos impunham as suas regras sem serem responsabilizáveis: desde o plano político ao económico/financeiro e ao tecnológico e científico.

As análises aos resultados das eleições legislativas partem de leituras económicas do mainstream centradas em indicadores quantitativos, quando os problemas que levam as pessoas a sentirem-se desprotegidas têm um somatório de causas e impactos. Os problemas com a habitação, a imigração, o SNS, a Escola Pública carecem de interpretações sociológicas e políticas. Estes bloqueios têm conexões intrincadas e configuram um país novo: não terão resposta num quadro em que mais de 90% do investimento público vem de fundos comunitários.

Grande parte das pessoas zangaram-se porque tiveram expectativas justas defraudadas no ciclo político 2015/2024. O Governo da “geringonça” teve grande apoio nos planos social e económico, desde a sua formação até 2019, e mesmo depois. O problema foi que o “programa comum” era minimalista e António Costa e o PS foram possuídos pela soberba política. As forças à sua esquerda ficaram presas na armadilha.

Agora, vai o PS continuar a olhar à esquerda como quem olha para processionárias? E vão estas forças tratar a experiência positiva como erro? Só a ação convergente para uma política social transformadora e boas relações evitarão o desastre. São precisas lideranças que aprendam a lidar com a mudança de expectativas e tirem à extrema-direita a bandeira do combate ao status quo.

Neste quadro, as próximas eleições autárquicas são de grande relevância. É em torno delas que os grandes coletivos mais se mobilizam. É nelas que se podem mais facilmente identificar oportunistas e forjar aproximações sem perda de identidades específicas. Em Lisboa, em 1989, viveu-se uma experiência boa, porque trabalhada com rigor e responsabilidade.


 
 
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Manuel Carvalho da Silva



 
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