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03-05-2025        Jornal de Notícias

Durante a semana já muito foi escrito e dito sobre o apagão que tivemos na passada segunda-feira. Todavia, existe muito por esclarecer. Só uma sociedade acrítica pode aceitar que a situação de complexa crise, vivida durante mais de meio dia, foi bem gerida. Muito menos ficar descansada face às imensas insuficiências observadas, nomeadamente, no sistema de comunicações de emergência (SIRESP), no INEM, nas tarefas da Polícia ou das Forças Armadas, no papel que as autarquias (a todos os níveis), as forças políticas e outras estruturas sociais e económicas podem e devem ter. E surgem novos temas de investigação sociológica sobre comportamentos em condições extremas.

O Governo, na ânsia de favorecer a sua imagem, fez pouco do que devia, dedicando-se à gestão da comunicação – a maior parte fora do tempo e com alguns disparates – apresentando Montenegro como governante salvador.

Há dois temas que o apagão nos sugere como questões cruciais, a exigirem, “enquanto o ferro está quente”, análise crítica ofensiva: não podemos embarcar em fascínios tecnológicos; nem na credibilização das virtudes supremas da organização económica liberal em que estamos metidos.

A otimização do lucro ignora o princípio da precaução. É mentira dizer que o avanço tecnológico transporta perigos a que temos de nos sujeitar para usufruirmos das vantagens da sua aplicação. Riscos existem sempre, mas se quando se projeta a aplicação de uma tecnologia houver prudência no estudo prévio das consequências identificáveis, e investimento em sistemas de controlo, é possível colmatá-los, ou mitigá-los.

O lucro como objetivo supremo reclama integração e internacionalização das atividades em “redes” cada vez maiores, mas aumenta os riscos. Naquela lógica, as redes eficientes são as que reduzem os custos ao mínimo, que eliminam “nós” e ligações. A sua eliminação conduz a situações em que a queda de um desencadeia a queda sucessiva de todos. Neste setor é velho o princípio da aplicação de “corta-fogos”. Já o era em sistemas regionais ou nacionais, mais o será numa rede internacional. A rede portuguesa está dependente de Espanha sem poder observar o que lá se passa, mas tem de assegurar o fornecimento de energia aos portugueses.

Neste setor os cidadãos são despertos (através de refinadas campanhas de marketing) para os pretensos baixos custos ao consumidor que resultam desse funcionamento em rede, e para o dogma do afastamento da presença do Estado nestas redes. Ora, há investimentos para a garantia de fornecimento de energia à população que, pela sua dimensão e delicadeza, só os estados estão em condições de os fazer.

A presença do Estado na propriedade, na produção, distribuição e definição das condições de consumo, bem como na garantia do funcionamento de instrumentos de avaliação e controlo permanente, é imprescindível.


 
 
pessoas
Manuel Carvalho da Silva



 
temas
apagão    estado    tecnologia