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30-03-2025        Jornal de Notícias

Desde o 11 de setembro de 2001 (o ataque às torres gémeas), vivemos um movimento de erosão de liberdades cívicas, progressivamente alastrado aos mais diversos campos das liberdades políticas. Os pretextos invocados foram diversos. Primeiro, foi a necessidade de se fazer a “guerra contra o terror”. A seguir, os sacrifícios “indispensáveis” para suportar a crise do suprime. Depois, o enfrentar dos impactos da pandemia covid-19. Em 2025 o processo prossegue com as respostas à invasão da Ucrânia, focado na insanidade de uma guerra europeia contra a Rússia.

O fundamental do lastro político para esta desastrosa caminhada vinha das últimas décadas do século XX – a ideia de que não há alternativa ao capitalismo neoliberal, tendo por objetivo desacreditar qualquer projeto de emancipação da Humanidade. Convergiu para o desastre a gula ocidental no processo de globalização. A ganância toldou a perceção do que poderia ser o seu curso. Foi intencionalmente ignorada a análise sobre os poderes que estavam a ser gerados. E o Ocidente enganou-se redondamente sobre os reais vencedores dessa globalização.

Num mundo que produz mais riqueza que nunca e que dispõe de meios para a fazer chegar a todos os seres humanos, no Ocidente e muito em particular na Europa, impera agora a ideia de que o futuro só pode ser pior, muito pior do que o presente. Logo, devemos aceitar a guerra que nos vai sendo apresentada como a salvação da nossa civilização. Isto é loucura.

Esta semana, surgiu o anúncio, a partir de Bruxelas – tendo por origem a comissária Hadja Lahbib e que o JN oportunamente tratou –, de que é preciso as famílias adotarem medidas especiais de proteção civil, preparando-se “para incidentes e crises intersetoriais em grande escala, incluindo a possibilidade de agressão armada”. Para tal objetivo é sugerida a criação de kits de “resiliência” individuais. A ideia é velha. Já foi utilizada em várias latitudes, designadamente no Macartismo (McCarthyism), em tempo de intensa repressão e perseguição política nos Estados Unidos da América (EUA). Perante o perigo de guerra nuclear, é patética a ideia de que os seres humanos se podem proteger agindo individualmente.

Estamos obrigados a debater os efeitos da opção assumida pelos EUA e, por consequência, a discutir a estratégia, a organização e caraterísticas das forças armadas e até a sua articulação no quadro europeu. Mas, situando essa análise numa reflexão que inclua várias outras componentes: uma diplomacia forte e credível; relações internacionais de acordo com as determinações constitucionais (art.o 7) com todos os países, incluindo a Rússia, e afirmação do multilateralismo; defesa da paz e dos direitos e liberdades dos cidadãos; exigência de dignidade no trabalho e de um sólido sistema de proteção social.

Só a mobilização dos povos pode evitar o espoletar de guerras e a sua continuidade. Afirmemos valores humanistas e de progresso para travar o sofrimento, o retrocesso e a perda de vidas humanas.


 
 
pessoas
Manuel Carvalho da Silva



 
temas
neoliberalismo    guerra    liberdade