Centro de Estudos Sociais
sala de imprensa do CES
RSS Canal CES
twitter CES
facebook CES
youtube CES
11-01-2025        Jornal de Notícias

Donald Trump, que a partir do dia 20 será o presidente dos Estados Unidos da América (EUA), ocupando assim um dos lugares de maior poder à escala global, não é nem pode ser tratado como maluco ou mero exibicionista que é, nem como um qualquer imbecil despido de ideias sustentadas. Trump é um manipulador que sabe criar nuvens de fumo e fazer disparos para alvos laterais, como forma de desviar atenções do que é central. Como cidadão e como presidente, sempre se regeu por interpretações concetuais e práticas que chocam com valores democráticos e humanistas, e negam o respeito pelo outro. Para ele, a verdade é apenas um pormenor a gerir e não vale mais que a mentira.

A governação que Trump vai corporizar assenta numa articulação de interesses - inovadora na composição do Governo e no programa - entre poderes privados poderosíssimos que se movem em processos de criação e apropriação de riqueza sem controlo, e forças sociais e culturais ultraconservadoras. Trata-se de um passo à frente em relação ao seu primeiro mandato, no sentido de aumentar a fuga ao controlo das instituições democráticas internas e de organizações internacionais.

Esta nova governação vai ser executada num cenário carregado de perigos. Destaco dois que muito interessam aos europeus. Primeiro, a delicadeza do atual contexto geoestratégico e geopolítico, que inexoravelmente está a gerar uma nova ordem internacional. Os protagonistas fundamentais daquela que nos trouxe até aqui, desde logo os EUA, não aceitam uma nova pacificamente. E, sendo a China o principal protagonista desse processo de mudança, a rota principal de conflito é EUA/China.

Segundo, o deslumbramento dos grandes decisores políticos face à evolução tecnológica e científica, que impediu análises críticas rigorosas, implantou falsos determinismos e permitiu às grandes companhias que controlam esta área a aquisição de um poder e riqueza imensos, que recusam regulação. Os empresários dos mais diversos setores vão querer os mesmos “direitos” dos Musks deste tempo.

Salários dignos, impostos necessários para suportar um Estado social, direitos laborais, sociais e políticos vão estar cada vez mais sob pressão. Aumentará o desrespeito pelo direito internacional e os problemas climáticos e ambientais tendem a agravar-se. No plano político pode acontecer que alguns velhos inimigos surjam como novos aliados e velhas alianças possam deixar de o ser.

À luz dos disparos de Trump, parece que a economia europeia não terá uma relação de reciprocidade da parte da economia dos EUA, mas sim um convite à subjugação. Por outro lado, os países europeus são convidados a suportar os custos da guerra na Ucrânia, a assegurar tensões com a Rússia, a trocar direitos sociais por gastos com armas, a serem solidários em todas as guerras militares, comerciais, ou por posse de matérias-primas, que os EUA considerem necessário para afrontar a China.


 
 
pessoas
Manuel Carvalho da Silva



 
temas
trump    EUA    política internacional