Neste dia de solstício de inverno de 2024, dia de celebração da vida, precisamos muito da vitória da luz sobre a escuridão, de reforçar a condenação da guerra e arquitetar caminhos de paz. O ciclo natalício dos cristãos convida à partilha, à solidariedade, ao reconhecimento pleno da igualdade entre os seres humanos. Estes conceitos serão repetidos milhões de vezes neste período. Infelizmente pouco mais representarão que palavras de circunstância. Faltam ancoradouros de verdade e de objetividade nas políticas e nas práticas de governação.
O pano de fundo que hoje marca toda a vida coletiva no plano mundial é um perigoso conflito entre o esbracejar de uma potência que se sente em queda e “quer ser grande outra vez” - Estados Unidos da América - e a agitação provocada pela emergência de uma outra potência que não pertence ao Ocidente - a China.
Este enorme país, com uma cultura própria profunda e uma leitura menos apressada do tempo, pode trazer (ainda incógnita) maior partilha de poder. A Rússia e outros grandes países aproveitam para ocupar ou recuperar posições. Por agora, ampliam-se as movimentações de povos e nações. Procuram sacudir garrotes a que estiveram sujeitos: na colonização; nos processos de descolonização; na marcação de fronteiras que convinham aos poderosos ocidentais; nas políticas neocoloniais e de fomento de conflitos; nos processos migratórios desrespeitadores dos direitos humanos.
A carga explosiva acumulada exige aos europeus e a todo o Ocidente humildade e uma postura genuinamente democrática. É uma obrigação dos países da União Europeia reconhecerem as tensões, os conflitos e as suas causas e, perante eles, agir com princípios e verdade. Os contributos dados pelos países europeus para o progresso das sociedades foram reais, mas os outros não os reconhecerão se construímos narrativas oportunistas ou mentirosas.
Não podemos apoiar ou condenar um beligerante em função de ser ou não considerado nosso amigo. Se queremos os países da União Europeia a agir a favor da paz e do desarmamento, temos de evitar envolvimento ativo nas políticas belicistas. Precisamos de estratégia geopolítica própria nas guerras na Ucrânia e na Palestina, mas também nas relações com o Cáucaso, o Médio Oriente, a África e a Ásia. E temos de reformular as que existem com todos as outras regiões do Mundo, à luz da realidade presente, não da que existia no passado. A persistência em narrativas carentes de verdade e o estender do tapete ao avanço das forças fascistas conduzirão a Europa para a sua velha condição de palco permanente de guerras.
Numa dimensão micro, o execrável espetáculo que Luís Montenegro e o seu governo deram ao país e ao Mundo, na passada quinta feira, no Martim Moniz em Lisboa, humilhando centenas de cidadãos pacíficos e humildes, é uma prática fascista e arrastará graves prejuízos para o país e para a imagem dos portugueses à escala global.