Esta semana, em Nova Iorque, na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de uma centena de líderes políticos, de outros tantos países, fizeram discursos sobre o futuro para o Mundo com conteúdos que nos apresentam esse mesmo Mundo a desmoronar-se debaixo dos nossos pés. Cava-se o abismo para onde podemos ser empurrados por loucuras belicistas, por crises climáticas e ambientais, por desrespeito pelo Direito Internacional, por desigualdades e injustiças profundas que historicamente espoletam e ampliam guerras, pela recusa em trabalhar agendas comuns necessárias para enfrentar os problemas globais do nosso tempo.
O futuro, em grande medida, é feito de respostas ao presente contínuo. Ora, neste conclave, a maioria dos participantes mais determinantes não apresenta propostas para tratar os problemas de hoje. Admite até que as guerras e genocídios a que estamos a assistir, em Gaza, na Cisjordânia, no Líbano (António Guterres disse “o inferno está à solta no Líbano”), no Sudão, na Ucrânia se agravem, ampliando sofrimento, miséria, pobreza, eliminação de direitos humanos.
Apesar do esforço do secretário-geral da ONU e de muitos negociadores que com ele se empenham, o amplo conjunto de áreas inerentes aos “Objetivos do desenvolvimento sustentável” não vão obter compromissos geradores de novas dinâmicas. Porquê? Exatamente porque, como afirmaram vários intervenientes na Conferência, há governantes, poderes, corporações, indivíduos, plataformas digitais e outras que se colocam acima da lei. Se não há resposta aos problemas do presente, que futuro perspetivar?
Joe Biden disse, na sua intervenção, “Eu sei, eu sei, muitos olham hoje para o Mundo, veem dificuldades e reagem com desespero. Mas eu não. Como líderes, não temos esse luxo”. O sofrimento profundo, a morte tornada banalidade naqueles cenários de guerra, em catástrofes climáticas e pandemias geram desespero profundo. Para o vencer é necessário solidariedade, cooperação e criação de esperança. Biden e todos os que não agem, na medida dos seus poderes, nesse sentido, tolhem o futuro.
Guterres afirmou que “o estado do nosso Mundo é insustentável. Não podemos continuar assim”. E várias vezes tem dito, com tristeza e vergonha, que a ONU está sem meios suficientes e é desrespeitada. Amiúde, surgem teorias sobre a “falência” daquela instituição, ou reclamação de profundas reformas. Sim, são necessárias reformas, mas tendo presente três realidades: esta instituição mundial é indispensável - está do lado errado quem a quer destruir, ou a provoca descaradamente como Netanyahu; uma “nova” ONU não poderá ser a instituição do Ocidente, para que se possam afirmar valores universais; o Mundo que conhecemos não sobrevirá ao agravamento do confronto entre as forças até aqui dominantes e as emergentes.
À tristeza e vergonha que sentimos temos de opor a esperança.