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15-06-2024        Jornal de Notícias

No nosso país, como na União Europeia, existe hoje um descarado namoro entre a Direita e a extrema-direita. A pregação de atores políticos da Direita contra os extremismos é mera retórica para encobrir aquele namoro. Qualquer análise séria ao quadro político atual, a partir dos posicionamentos de cada força perante princípios e valores da democracia, evidencia-nos um cavalgar de políticas ultraconservadoras e fascistas e uma quase inexistência de posições de extrema-esquerda.

A maior parte dos conteúdos que surgem catalogados de extremismos de Esquerda não passam de propostas comuns - com percurso histórico - da social-democracia. É preocupante que alguns democratas de Direita embarquem naquela pregação.

A resposta a esta situação exige que se consiga construir um bloco social sustentado pela convergência entre os vários setores sociais progressistas, que: i) coloque no centro da discussão pública a importância da paz e os perigos da guerra; ii) dê atenção à democratização das relações internacionais; iii) evidencie que o constante inventar de inimigos para manietar setores da sociedade tem grandes perigos; iv) vá formulando consistentes respostas para os problemas prementes, inseridas no horizonte de um projeto social transformador.

É preciso afrontar a manipulação que a Direita está a fazer do tema migrações. Assumir a mesma atitude em relação às políticas de habitação e à falácia das migalhas na fiscalidade como alternativa à premente valorização dos salários. Debater o Estado social a partir do que representa cada conteúdo nas condições de vida dos cidadãos e também na economia. Desafiar os jovens a agir pelo direito a viver no seu país e a não se deixarem acantonar na ideia de que cada um por si e com “mérito” resolverá o seu futuro.

A Esquerda, cujo espaço político se tem estreitado, continua, no fundamental, a identificar bem os problemas das pessoas e a relevância da questão social. Parece que os seus principais entraves serão: por um lado, a incapacidade de, neste ciclo, conseguir trabalhar, com êxito, as novas configurações em que surgem alguns grandes problemas das pessoas; por outro lado, as novas forças que surgiram no seu seio, fragmentando-a, têm agendas atomizadas que não reforçam a capacidade da ação estratégica da Esquerda, nomeadamente, no amplo campo do sociopolítico.

O movimento sindical, mesmo fragilizado (por agora) continuará a ser ator fundamental na luta sociopolítica. As causas do definhamento da democracia são, também, os grandes obstáculos à estruturação, organização e ação dos sindicatos. Entretanto, não se pode deixar de constatar que a UGT, como confederação sindical, tem estado num estado de hibernação prolongado, o que nada ajuda o conjunto do movimento sindical. Quanto à CGTP-IN, observa-se que não deixou de valorizar o trabalho de base e que tem perceção dos grandes objetivos e batalhas laborais e sociais a travar. Contudo, práticas menos respeitadoras da pluralidade na sua vida interna e na composição dos seus órgãos podem enfraquecer muito a sua capacidade de representação e ação, historicamente muito importantes.

As forças da democracia e do progresso têm experiência e capacidades para ultrapassar esta fase difícil. A boa articulação da sua ação é primordial.


 
 
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Manuel Carvalho da Silva



 
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