O século XX, sob influência do intempestivo Progresso, é um protótipo óbvio àqueles/as que se preocupam com o atual recrudescer da barbárie em escala global. Vejamos, no primeiro quarto do período em apreço, se sobressaíram - na alegoria tricolor nazista e nos camisas-negras do fascismo italiano - a justificação da violência para enfrentar a crise econômica e se apresentar como justaposição ao desencanto da população empobrecida frente ao desaprumo na política.
Neste cenário, o reformismo pregado pelos socialistas sedimentou o fértil terreno das contradições sociais e, ao se apresentar em comunhão com os interesses da burguesia ascendente, germinou na classe operária o sentimento de expropriação da sua recém-adquirida consciência revolucionária.
Consoante Clara Zetkin (1857-1933), uma das principais líderes do Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD) - ao lado de Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht -, “eles ficaram desapontados em suas esperanças. O pior de tudo é que essas massas perderam a fé não apenas nos líderes reformistas, mas no socialismo como um todo, tornando o fascismo uma espécie de refúgio para os politicamente sem abrigo” (em “Resolução sobre o Fascismo”, de 23 de junho de 1923).
Considerando que o sistema de criação de valor capitalista se sustenta na exploração da classe trabalhadora, a estrutura de poder do Estado (sob comando da burguesia) deslocou o seu apoio político-econômico do fracassado socialismo-reformista para o extremismo revigorado da barbárie fascista para controlar as massas.
Com a propagação do medo - a lavra de insegurança contínua frente ao devir - prepararam o terreno para a alienação totalitária. As contradições sistêmicas, entretanto, foram ocultadas, pois o fascismo é a expressão da decadência e dissolução da economia de mercado. Resultado, tanto antes como agora, é a crise estrutural do capital (leia-se, desemprego e incapacidade dos Estados em garantir políticas públicas eficientes).
Atenção, caro leitor/a, apesar de estar a referir-me ao momento histórico que definiu o período entre as duas Grandes Guerras (1914/1939) - incluindo a dissolução da República de Weimar, a ascensão de Hitler e de Mussolini - o fascismo não morreu. Longe disso, se apresenta cada vez mais renovado para encobrir velhas certezas da ignomínia do sistema de produção de mercadorias.
“O fascismo é um movimento que se aproveita dos famintos, daqueles que estão em sofrimento, dos desiludidos, dos que estão sem futuro” (Clara Zetkin). Não podemos incorrer nos erros do passado e tampouco negligenciar a sua existência.Portanto, para garantir a permanência da humanidade nós devemos enfrentar os fascismos tais como se apresentam à nossa época.