Tivemos uma longa campanha eleitoral e o dever do voto deve ser de todos. Não faltaram debates e fomos intoxicados com comentários aos debates. Houve exagero no espaço concedido aos inimigos da democracia e uma presença desproporcionada da Direita nos grandes espaços de comunicação “tradicional”. As redes sociais estiveram participadas e por lá também circulou muito lixo. Os partidos acabaram por ter de expor, minimamente, os seus programas. Contudo, temas importantíssimos que terão de estar nas agendas da governação ficaram em branco.
Os nossos governantes hão de invocar amiúde a situação internacional e as políticas da União Europeia (UE) para justificarem as suas opções de políticas. Mas, estes temas ficaram ausentes. Hoje, na UE, discute-se uma economia de guerra. Estamos conscientes disso? Estamos preparados para redobrarmos a nossa luta (é isso que vai ter de acontecer) pelo direito a um Estado social que garanta vida digna a todos que vivem em Portugal, e contra a intensificação da exploração no trabalho?
A guerra torna-se inevitável quando imperam a sobranceria, a ganância, o egoísmo, a irracionalidade humana. A guerra, que é a crise das crises, gera condições brutais de subjugação e exploração. A Organização Internacional do Trabalho foi criada à saída da 1ª guerra mundial, porque a valorização e dignificação do trabalho é um dos fatores determinantes para gerar climas de paz. Na Europa, a “austeridade”, a desvalorização salarial e de rendimentos dos trabalhadores (ativos ou reformados), e a falta de habitação foram as grandes causas do avanço da extrema-direita e de ideais fascistas. Que reação devemos ter se nos empurrarem para o aprofundamento daquelas políticas?
A questão das migrações foi tratada por alguns democratas, de forma quase só instrumental: por exemplo, evidenciando que os imigrantes “são importantes para colmatar a falta de trabalhadores portugueses, para melhorar a natalidade e para reforçar as receitas da Segurança Social”. A extrema- -direita colocou os imigrantes - a componente mais frágil da sociedade - como os primeiros responsáveis das incomodidades das “pessoas de bem”. Ela não tem - nunca teve - respostas para os problemas numa sociedade democrática. Alimenta-se de ódios, da colocação de cidadãos contra cidadãos até se alcandorar ao poder. Quando lá chega, coloca o Estado em guerra com todo o povo.
Nesta área, os grandes desafios que não foram, mas têm de ser discutidos, são: como se impedir a exploração ignóbil a que muitos imigrantes são sujeitos, como lhes garantir condições sociais, alojamento digno, condições de acesso à Escola? Precisamos de uma consciência coletiva preparada para sermos uma sociedade multicultural e multiétnica, obrigada a evoluir no modo como se vive em conjunto. As novas soluções a encontrar para o SNS, para a Segurança Social, para a Escola, para a Justiça ou são feitas já a considerar o novo tipo de sociedade que somos, ou os bloqueios aumentarão.
No tema Educação esteve a situação dos professores que, sendo importante, é apenas uma parte. Não se debateu a Escola para as novas gerações. Como criar um saber crítico, valorizar a complementaridade dos saberes e o papel da ciência no combate à trapaça?
Como ajudar os jovens a saber o que são profissões e qualificações e a como se prepararem para elas?
É lamentável que todos estes temas tenham ficado em branco. Entretanto, tenhamos consciência de que eles só serão tratados se ganharmos a luta pela paz.