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03-02-2024        Jornal de Notícias

Vêm-se observando acontecimentos na vida política e nas práticas de diversos poderes, nos planos internacional e nacional, que nos merecem profunda indignação por desafiarem os povos a despirem-se de racionalidade e de dignidade, a humilharem-se perante objetivos “superiores”, pretensamente inquestionáveis.

A execução extrajudicial de três palestinianos, feita por militares israelitas num hospital na Palestina, no pressuposto de que se tratava de “terroristas do Hamas que preparavam ataques”, constituiu um ato chocante. Entretanto, numa atitude de contra-ataque face ao julgamento a que está sujeito no Tribunal Penal Internacional, Israel acusou a agência das Nações Unidas de Assistência e Obras para Refugiados da Palestina de estar infiltrada por alguns militantes do Hamas e ao seu serviço, o que pontualmente até pode ter acontecido e a própria agência já estava a investigar.

Em nome desse “facto”, 10 países grandes declararam que deixariam de pagar as suas contribuições para aquela agência. A consumar-se tal opção, esses países aliam-se a Israel na deportação em massa de palestinianos, ignorando o seu sofrimento e os seus direitos. E negam-se como defensores da existência pacífica de dois estados.

Na União Europeia como nos Estados Unidos da América, todos os que se consideram democratas se dizem preocupados (com expressões diferenciadas) com o avanço da “extrema-direita radical”. Para uma grande parte, trata-se de uma afirmação hipócrita, pois o poder que estão a apoiar em Israel é uma aliança entre a extrema-direita radical e fascista e um corrupto para quem a continuação da guerra constitui o adiamento da sua presença perante a justiça.

Em Portugal, estamos num atoleiro político que não é obra do acaso. O contexto externo não ajuda, mas há graves culpas próprias, desde logo erros crassos do Governo. Por outro lado, o presidente da República sobrepôs as suas opções pessoais à interpretação rigorosa das disposições constitucionais e meteu-nos na bagunça de instabilização governativa simultânea na República e nas regiões autónomas. Agora, tentando safar a pele, vem (é o que se pode deduzir de informação do “Expresso” de ontem) insinuar o voto útil no PS e no PSD, e arvorar-se no direito, que sabe não ter, de não dar posse a um Governo maioritário que não seja presidido pelo líder do partido mais votado.

É possível que a extrema-direita esteja a atrair a juventude que se sente frustrada. Mas era uma evidência que a emigração de muitas centenas de milhares de jovens qualificados reduziria a massa crítica e mobilizadora da sociedade, quer pela sua ausência, quer pelo efeito desmobilizador sobre os que por cá continuam.

A Justiça - carente de equilíbrio de relações e procedimentos de escrutínio equilibrado entre todos os poderes - vem dando um contributo desastroso para o evoluir da situação política, pelas debilidades que evidencia em vários campos, e porque, numa sociedade mediatizada, continua a fazer de conta que não tem de se relacionar com a sociedade. Tem contribuído para transformar o combate à corrupção numa arma de arremesso que dispara, sem nexo, em todas as direções.

A comunicação social, salvo honrosas exceções, joga no sensacionalismo. O caixote do lixo da política é sempre mais importante que as componentes que respeitam o regime democrático. E até gosta de colocar usurários a avaliar as qualidades dos governantes.

Talvez já não chegue indignarmo-nos. É preciso evidenciar a ignomínia.


 
 
pessoas
Manuel Carvalho da Silva



 
temas
israel    justiça    palestina    sensacionalismo