Eleições pela frente, toca a identificar as camadas de maior peso eleitoral e os seus anseios imediatos e a produzir ajustamentos discursivos. É a azafama dos partidos políticos e são exigências da democracia. Contudo, o tempo que vivemos é tempo de imediatismos, de refinados exercícios de apagamento da memória, de enorme manipulação comunicacional, num contexto de fragilização da vida democrática que geram um festival de contorcionismo de quem quer vender gato por lebre.
Luís Montenegro, em 2014, na sua postura de “estadista” no poder, considerava que o importante era o país estar bem, não importava as pessoas estarem mal. Agora, que precisa de votos para tentar chegar ao poder, dá a cambalhota: nas suas mensagens aos portugueses parece a madrasta perante o espelho de magia malévola: “espelho meu, espelho meu”, quem é capaz de aumentar o salário mínimo, os complementos sociais e as pensões mais do que eu?
Na identificação dos perigos que resultariam de uma vitória da Direita nas próximas eleições legislativas, não basta analisar o que fez quando esteve no Governo; é imprescindível ver bem o que são hoje os seus verdadeiros programas. Esse exercício completa-se com a observação atenta dos posicionamentos do poder económico e financeiro e dos grandes interesses instalados (referirei a seguir dois casos) e, ainda, do que está a acontecer noutros países, desde a França à Argentina.
Primeiro, o nosso sistema de Segurança Social tem uma situação de estabilidade financeira. Todavia, o cheiro a festim já colocou os fundos de investimento em pensões a reclamar mudanças. Ora, há setores empresariais a acenar com uma melhoria imediata dos rendimentos dos jovens se estes mandarem às malvas as contribuições para o sistema e, por consequência, a solidariedade entre gerações. Segundo, é preciso construir-se um novo aeroporto e está mais que estudada a sua localização. Mas, utilizando o negócio vergonhoso (talvez criminoso) feito com a ANA-Aeroportos de Portugal, perspetiva-se uma perigosa chantagem desta entidade. O senhor José Luís Arnaut, chairman da dita, aí está na primeira fila dos apoiantes de Montenegro.
O último Governo PSD/CDS promoveu a tese de que “os portugueses viviam acima das suas possibilidades”, legislou para concretizar a maior transferência de rendimentos do trabalho para o capital, incentivou os jovens portugueses a emigrar. Entretanto, as práticas da Direita deslizaram para a extrema-direita. Caiu-lhes o verniz democrático e recorrem, cada vez mais, a instrumentos judiciais e policiais para impor reformas ultraconservadoras e neoliberais. Daqui não virão respostas para os problemas das pessoas.
Passos Coelho, o defensor da imposição de castigos aos portugueses, o pregador da emigração como solução para a vida dos jovens portugueses, o padrinho do Ventura, é hoje o grande promotor do branqueamento e normalização da extrema-direita.
Durão Barroso impôs, em 2003, o Código de Trabalho que havia de se tornar instrumento decisivo para a desvalorização salarial, promoveu uma lei regressiva na Segurança Social e aumentou o IVA. Foi também um dos quatro figurões que, na Base das Lajes, oficializaram a mentira que “justificou” a criminosa invasão do Iraque, o início de uma brutal instabilização do Médio Oriente. Agora pede aos portugueses que ponham o PS em “cura de oposição”, para que as políticas que defende sejam postas em prática. Que se pode esperar destas condutas e suas “doutas” opiniões?
Por mais que perguntem ao espelho, eles não deixam de ser quem são.