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20-12-2023        A Tarde [BR]

Mark Twain, nascido Samuel L. Clemens (1835/1910), em 75 anos de  existência pôde interpretar as transformações político-econômicas globais e participar, através da literatura, do árduo processo de compreensão da condição humana. Aventureiro - conduzia barcas no rio Mississippi e padeceu das vicissitudes da “corrida da prata” em Nevada - foi com “A Era Dourada: um conto atual”, coautoria de Charles D. Warner, que Twain se notabilizou como crítico social. Publicado em 1873, o romance aborda o tema da corrupção envolta no manto da especulação imobiliária praticada por grandes empresas e o seu inevitável enredar na gestão da “coisa pública”.

Esse é o meu interesse aqui. Resgatar a raiz tragicômica do autor para além de sua notoriedade com os clássicos “As aventuras de Tom Sawyer” (1876) e “As aventuras de Huckleberry Finn” (1884). Para tanto, sirvo-me de sua biografia na última década do século XIX para confirmar a revolta do escritor com a política imperialista das grandes potências para justificar a barbárie mercadológica. O que podemos constatar com a Guerra dos Bôeres na África do Sul (1899/1902), a Rebelião dos Boxers em China (1899/1901) e, sobretudo, a intervenção norte-americana no processo de independência cubana que resultou na guerra contra a Espanha em 1898.

Tal desconhecimento dos escritos mais políticos de Twain é intencional. Consoante Maria Sílvia Betti - professora do Departamento de Letras Modernas da FFLCH/USP - “a história do processo de supressão da dimensão política do trabalho de Twain associa-se diretamente à exclusão institucionalizada do imperialismo como tema de reflexão e debate, seja no campo da formação cultural do cidadão norte-americano comum, seja no âmbito da pesquisa acadêmica” (p. 21).

Ela é quem organiza “Patriotas e traidores: antiimperialismo e crítica social” (2003). Livro que apresenta ao leitor/a de língua portuguesa uma seleção de ensaios de Twain que desvelam a hipocrisia do poder em inelutável abordagem antiimperialista. Com destaque para os conflitos no Caribe - que levaram a anexação do Havaí pelos Estados Unidos - a crítica se estende para Rússia, África e China. Contém, também, um capítulo dedicado às questões de raça/etnia e religião e outro sobre a dicotomia ficção/jornalismo que atestam a atualidade do autor.
Em tempos sombrios, acredito que o alerta de Twain deveria compor pauta nas reuniões do G8 e da ONU, pois “parece-me que o nosso prazer e dever seriam tornar livres aquelas pessoas e deixar que elas próprias resolvam sozinhas as suas questões internas” (p. 5). O “estranho misterioso”, Mark Twain, me causou tamanha impressão que fiquei assustado. Afinal, tudo o que ele disse era ou continua a ser verdade?


 
 
pessoas
Antonio Carlos Silva



 
temas
mark twain    humanidade    g8    ONU