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03-11-2023        A Tarde [BR]

Chegamos em 2023 certos de que sobrevivemos ao pior. Será?

Na campo da ciência, o sentimento é dúbio. Se o objetivo é atender aos desejos ilimitados de riqueza da indústria farmacêutica, sob as vestes do Oráculo de Delfos, ela está a cumprir bem o seu papel. Se a pretensão é acalmar os sentimentos insurgentes da corrosiva desigualdade social, surge como Pandora para simbolizar a incerteza da esperança. Basta verificar o abismo existente entre os investimentos destinados para cosmetologia (beleza/estética) e erradicação de doenças tropicais (Zika/Chikungunya, por exemplo) para confirmarmos que o Deus Dinheiro busca os pastos mais verdes para se auto-reproduzir.

Na Economia Política também incorremos na mesma ambiguidade, isto porque “todo o nosso presente é experimentado como uma ordem precária e todo o futuro se conjuga no passado” (Marina Garcés, 2022). Assim, no atual estágio da crise estrutural do capital, devemos assumir que tornamo-nos incapazes de suprimir o torpor imaginativo que esteriliza a realização de outro Mundo possível?

Parece-me que sim, pois quando os vassalos lutam pela supremacia do poder, mas negligenciam as contradições sistêmicas que adornam a crise continua, há algo de  podre no reino global que acaba por despertar a insensata fera totalitária.

Até mesmo a esquerda tradicional, entre a distopia socialista e a realidade da barbárie, encontra-se perdida no tempo e excluída no espaço. Frente ao futuro, sempre incerto, sustenta que a defesa do Estado - para garantir o mínimo dos direitos historicamente adquiridos - e a proteção da malfadada democracia podem reverter os males causados pelo voraz apetite do Mercado. O perigo é que “nesta irracionalidade reside o risco de cairmos no conservadorismo e renunciarmos o sentido do mundo vindouro” (Pablo Stefanoni, 2021) se o preço por tentar burlar o relógio da História é permitir que o controle da política caía nas mãos e no discurso messiânico dos demagogos de plantão.

Frente ao recrudescer dos males que assolam o Planeta (liderados pelo espectro do desemprego e da insegurança alimentar), a versão mais extremista da direita consegue atrair um significativo e promissor número de signatários desencantados com a promessa de justiça, paz e equidade social que jamais se materializa.
Destarte, cabe às esquerdas assumirem o compromisso de construção de uma ponte segura sobre esse abismo e reiventarem, em consonância com os indignados com que aí está, o sentido (teórico e prático) da própria política. Atentos, entretanto, que o Deus Dinheiro está sempre a espreita e se ele perde uma partida não significa que nós vencemos o campeonato. Afinal, sob o capital, a vitória parcial é apenas um pequeno gracejo.


 
 
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Antonio Carlos Silva



 
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