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12-09-2023        Diário de Coimbra

No passado, dia 15 de agosto, o ministro da Defesa Chinês, Li Shangfu, reuniu-se na Rússia com o seu homólogo russo. Numa das frases proferidas pelo Ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, este foi perentório: “A história atribui uma vez mais à Rússia a função de promover a maioria dos interesses dos Estados independentes”. Na minha opinião, devemos interpretar e justificar este tipo de discurso de dois modos. Primeiro, e mais uma vez, a Rússia vem desafiar os Estados que pertenciam à antiga esfera soviética, durante o período da Guerra Fria a juntarem-se a ela.

Na verdade, durante a era Soviética, muito dos Estados (alguns verdadeiramente alinhados com Moscovo), coexistiam com um conjunto de Estados não alinhados que eram grandes Estados, como por exemplo a Índia, e que tinham efetivamente relações muito mais próximas como Moscovo do que com o Ocidente. Concretamente, nos últimos tempos, o que a Rússia tem tentado fazer é olhar para um conjunto de Estados, alguns poderosos, como o Brasil, a Índia, Africa do Sul e a China, que fazem parte dos chamados BRICS e são líderes regionais na sua área regional, chamando-os a atenção para se aliarem à Rússia de modo a criarem um certo domínio do Sul global. De salientar que esta ideia constitui também a narrativa chinesa.

Em segundo lugar, existe um outro ponto que é exclusivamente russo: a ideia de que a Rússia representa um conservadorismo que caiu em desuso. Este conservadorismo tem a ver com a ideia de civilização e não devemos ter medo de a pronunciar. O conceito de civilização está de regresso e contém os valores tradicionais da família, valores relacionados com a Igreja Ortodoxa Russa, mas que do ponto de vista secular, a Rússia identifica como sendo o cristianismo em geral. O carater civilizacional contém dentro dele próprio o conservadorismo e o autoritarismo que é um valor benigno para determinadas lideranças de certos países. Portanto, existem dois tipos de estados que a Rússia quer coaptar.

Por um lado, os estados que têm um potencial de serem líderes regionais e de alguma maneira controlar os seus Continentes e de ter uma relação estreita com a Rússia e com a China. Por outro lado, a ideia messiânica de que a Rússia é o último baluarte do conservadorismo e a guardiã dos verdadeiros valores europeus, estando apenas à espera que a Europa caia na sua própria decadência para abraçar, de novo, esses valores. Portanto, na verdade, existe uma dupla vertente em mais este episódio preconizado pelo Kremlin. Por um lado, uma coaptação dos Estados emergentes do Sul global. Por outro lado, uma chamada de atenção para os Estados que estão a entrar em decadência e que do ponto de vista russo, podem encontrar na “Santa Rússia” a “salvação” para a sua “alma” e os verdadeiros valores europeus e civilizacionais.


 
 
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