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31-07-2023        A Tarde [BR]

A editora Antígona lançou, em 2012, o livro “A Balsa da Medusa”, uma coletânea de Anselm Jappe sobre a relevância da produção cultural e artística. Um texto em particular, “Existe uma arte depois do fim da arte?”, resgatava a tese da Internacional Situaciosta de que a arte havia perdido a sua razão de/para existência sob a égide do sistema de produção social do capial.

A justificativa, aqui está o elemento-chave desta constatação histórica, era que a arte estava condenada a se tornar um eterno reflexo de si mesma, uma reprodução destituída de capacidade para suplantar a anomia existencial. Em outras palavras, seria apenas mais uma mercadoria a serviço do processo de criação de riqueza monetária, não o farol para iluminar os caminhos e interromper a obsessão pela dominação excludente.

Jappe não estava a refutar a criatividade artística contemporânea, mas a questionar se a função social da arte pode suplantar as estruturas do poder vigente. Será que ela ainda consegue despertar, nas mentes e nos corpos das distintas gentes, o espírito emancipatório que constituí sua existência? Consoante o filósofo, “o problema da arte contemporânea é a sua total falta de peso na vida coletiva (...) nunca a sua função social foi tão reduzida, nunca a sua existência foi tão marginal” (Anselm Jappe, 2012, p. 136)

O artigo encerra com uma provocação dialética: no futuro que se avizinha conseguiremos compreender o tempo presente por meio da produção artística gerada em interlocução crítica com o passado? E, o mais importante, nesta aferição da vida em valor mercantil tal necessidade existirá?

Acredito que sim. Sem qualquer pretensão de unanimidade, mas consciente que frente as constantes dificuldades apresentadas pelo exercício diário de viver, aspirar liberdade e enfrentar a irracionalidade que norteia a barbárie deste século, a Arte se apresenta no horizonte do (im)possível com toda sua energia e vigor.
Utilizo como referência o artivista e exilado Ai Weiwei que constantemente perseguido, ameaçado e preso pelo governo ditatorial chinês transformou a propaganda de mentiras e as táticas difamatórias do poder em alimento para os seus criativos projetos culturais e artísticos. Todos com uma orientação em comum: o despertar crítico das massas. Entre eles destaco, por sua força contestatória, o “Cesto de Flores” que consiste no simples compartilhar diário da fotografia de flores frescas a adornar o cesto da sua bicicleta.

Como assevera Ai Weiwei, trata-se de “um símbolo vivo da perda de liberdade na forma de resistência benigna e lírica, silenciosa, mas linda e renovada todos os dias” (2021). Essa é a função da Arte, manter acessa a chama da mudança para construção de um mundo melhor.


 
 
pessoas
Antonio Carlos Silva



 
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história    cultura    arte