Na Europa a que pertencemos por geografia e por outros compromissos coletivos, vemos as democracias enfraquecerem perigosamente: em vários contextos foi sob o seu poder que se estruturou a “economia que mata” e a financeirização que amplia o “roubo legal”, as desigualdades e a pobreza. O eurocentrismo e o ocidentalismo têm negado dignidade e direitos iguais a todos os povos. Entretanto, olhando o que nos rodeia, encontramos outros regimes políticos que, em vários aspetos, não se recomendam. Que fazer então?
As eleições do último fim de semana em Espanha expuseram algumas grandes causas e objetivos, e também caminhos de ação, a ter em conta. Os resultados foram uma grande vitória da democracia. Se essa vitória se vai consolidar não sabemos. Nem percecionamos a influência que poderá ter na União Europeia (UE) e noutros espaços. A Direita espanhola não está em condições de responder, reforçou-se a responsabilidade da Esquerda.
Na Europa há uma real onda neofascista que cavalga a grande velocidade. A Direita começou por falar na necessidade de criar uma “barreira sanitária”, todavia a ânsia do poder e os grandes interesses económicos que instituem crises sob múltiplos pretextos (a guerra é um deles) cilindraram tal ideia. A extrema direita e forças fascistas estão instaladas nos parlamentos e governos de grande número de países da UE. É doloroso ver líderes e comentadores de direita, e outros “democratas encartados”, enrolados nos discursos do perigo simétrico dos “extremismos”. Noutros contextos houve, e pode haver no futuro, extremismos à esquerda: hoje o perigo real é o fascismo.
Considerar simétrica a possibilidade de um governo à Esquerda negociar compromissos com forças, localizadas regionalmente, que tiveram práticas radicais inaceitáveis, mas as abandonaram para integraram as instituições democráticas, com a entrada na governação do fascismo franquista, é um absurdo para qualquer democrata. Pressupor que a “ganância” dos trabalhadores e dos pensionistas (quando reivindicam melhores salários e pensões) é simétrica da ganância dos detentores de fortunas escandalosas feitas do dia para a noite é negar a igualdade, a solidariedade, a justiça. Tomar os distúrbios e manifestações de alguma violência que têm ocorrido em alguns países europeus, como simétricos de programas políticos que têm o objetivo de destruir as instituições democráticas e avanços civilizacionais duramente conquistados, é execrável.
Os povos de Espanha deram uma lição ao assumirem que, apesar de todos os descontentamentos que acumulam, é prioritário e possível travar as forças neofascistas na sua cavalgada. Não querem a ultra direita no governo. A solução, difícil, será à esquerda e com a Esquerda a ter de dialogar muito e a assumir compromissos entre si. A negociação e os compromissos são trabalhosos, mas mais eficazes que qualquer maioria de uma só cor, ou qualquer ditadura. E, como a Esquerda toda não chegará, haverá que negociar acordos que respondam a anseios nacionalistas, realidade que nós portugueses conhecemos muito pouco e que a Direita espanhola, no seu caminho de retrocesso, deixou de considerar.
Esperam-se compromissos políticos que melhorem as condições de trabalho e de vida dos jovens e dos imigrantes e o bem estar dos idosos. E, novos impulsos à democracia para consolidar a vitória.
Poderá valer a pena estar em Olivença e em toda a grande Espanha. E em Portugal também, se deitarmos mão da lição de domingo.